Presidente do MDB diz que Bolsonaro é vítima de si mesmo

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Foto: Leonardo Rodrigues/Valor

Presidente do MDB, o deputado Baleia Rossi (SP) afirma que seu partido estará ao lado da democracia e quem mais perde com os discursos golpistas é o próprio presidente Jair Bolsonaro (PL). “Essa estratégia política acaba até prejudicando o presidente. Agora temos que discutir o país, falar para o povo o que ele quer ouvir, que é quem pode resolver os problemas reais”, disse, em entrevista horas antes de participar da posse do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes.

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Segundo o deputado, pesquisas qualitativas mostram que o eleitor quer pessoas experientes, que resolvam seus problemas, e que passou a onda ideológica de 2018. Para ele, a candidatura presidencial da senadora Simone Tebet (MDB) decolará após o início da propaganda na TV, dia 26 de agosto, e chegará aos dois dígitos nas intenções de voto em meados de setembro.
Ele desconversa sobre eventuais apoios no segundo turno e também sobre uma possível nova candidatura à presidência da Câmara. Derrotado por Arthur Lira (PP-AL) para o cargo no ano passado, ele não vê nem o rival nem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como favoritos para a recondução e diz que isso dependerá de quem for o presidente da República eleito. Mas acusa Lira de engavetar a reforma dos impostos sobre consumo por “picuinha política” — a PEC 45 foi protocolada por Baleia.

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

Posse de Moraes

“A Simone teve agenda com o pessoal da cultura em São Paulo no primeiro dia da campanha e viajou à Brasília em voo comercial para participar da posse do ministro Alexandre de Moraes no TSE porque está no DNA do MDB a defesa da democracia. Eu mesmo falei para o ministro Alexandre que a posse dele teve a capacidade de reunir em um ambiente pessoas que pensam diferente, mas que têm objetivo comum, que é a defesa da democracia e das instituições. É um evento que vai entrar para história.”

Discurso golpista

“Cada um tem uma estratégia política. Em nome do MDB, nós sempre nos posicionamos em favor da democracia e das nossas instituições. Teremos uma campanha eleitoral difícil, mas vejo a nossa democracia madura e sem nenhum risco de ruptura.”

Presidente golpista?

“É difícil falar da postura ou fazer análise do presidente. Mas todas as vezes que ele tenta polarizar sobre esse tema, ele perde. Ele mesmo foi eleito seis ou sete vezes por esse sistema e não tem embasamento técnico ou legal para os questionamentos que faz. Essa estratégia política acaba até prejudicando o presidente. Agora temos que discutir o país, ter projeto, falar para o povo o que ele quer ouvir, que é quem pode resolver os problemas reais da população. As próprias pesquisas demonstram que o brasileiro confia no sistema eleitoral. Mas por isso [ataques] a importância da presença de todos na posse do ministro.”

Eleições 2022

“Estou otimista. Preparamos o partido para voltar com uma bancada de 50 deputados federais, novamente ter a maior bancada de deputados estaduais, eleger de cinco a seis governadores [são nove candidatos], de cinco a seis senadores e de sete a oito vice-governadores. Tenho a expectativa de que o partido terá uma vitória muito significativa nas urnas e voltará com muita força, como já teve em outras ocasiões. A eleição em 2018 foi muito difícil, mas vamos recuperar o prestigio do MDB.”

Simone Tebet

“Otimismo total. Fizemos três pesquisas qualitativas que mostram que ela vai crescer. Dia 26, quando começar a televisão, as pessoas vão começar a conhecer a Simone. Hoje, 70% da população ainda não sabe que ela é candidata. Temos eleição polarizada, agressiva, que tem um voto mais do não do que da esperança. Ela tem o melhor programa e vai trazer um projeto de pacificação nacional, de união. Ninguém mais aguenta tanta briga. Onde você vai há discussões rasas e a vida da população não está melhorando. Até meados de setembro ela alcança dois dígitos [nas intenções de votos].”

Segundo turno

“O grande desafio é fazer com que os simpatizantes acreditem que ela vai crescer e se tornar viável. O eleitor está em busca de experiência, mas com novidade. Assim que ela chegar a dois dígitos, tenho certeza que terá crescimento rápido porque mostrará essa viabilidade. A CPI da Covid é outra associação que vamos fazer. As pessoas não lembram que ela era a voz do Brasil na CPI.”

Apoio no MDB

“O MDB é o partido mais democrático do Brasil. Não temos nenhum tipo de imposição. Todas as decisões são por maioria e a Simone teve 97% dos votos favoráveis à candidatura dela. Temos alguns líderes que apoiam o Lula e outros que apoiam o Bolsonaro, é verdade, mas a grande maioria está com a nossa candidata. Não vamos [punir os dissidentes]. Temos tradição de respeitar os que pensam diferente e tenho certeza que cada ponto que a Simone subir na pesquisa, mais apoio interno e na sociedade ela terá.”

Fundo eleitoral

“O MDB dará R$ 32,5 milhões para a campanha da Simone com mais R$ 7,5 milhões do PSDB/Cidadania. Teremos R$ 40 milhões, que é absolutamente compatível com uma candidatura nacional.”

MDB no segundo turno

“Vamos trabalhar para que a Simone vá ao segundo turno e nos reuniremos no dia 3 de outubro para buscar o apoio daqueles que não foram. A Simone e o MDB passaram por várias provas nos últimos meses. Fizemos a unificação dos partidos mais ao centro e superamos candidatos altamente competitivos, como o ex-juiz Sergio Moro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o ex-ministro Mandetta e o ex-governador João Doria. Diziam que ela não passaria do Natal, depois do carnaval, e está aí como a candidata do centro democrático.”

Concessões ao PSDB

“O Gabriel [Souza, candidato a vice-governador no Rio Grande do Sul pelo MDB] foi importante articulador na aprovação das reformas do governo Eduardo Leite [PSDB] e seria o candidato a governador de todos se o Eduardo não decidisse ser o candidato. Quando ele decidiu, era natural que houvesse essa aliança. Em São Paulo, abrimos mão da vice do Rodrigo Garcia [PSDB] para o Edson Aparecido [MDB] ser o candidato ao Senado. Ele foi um extraordinário secretário de Saúde, transformou São Paulo na capital mundial da vacina e terá o dobro do tempo de TV do segundo colocado para mostrar isso. Ele terá exposição como se fosse o candidato ao governo, mais do que o tempo de propaganda na TV do [Fernando] Haddad e do Tarcísio [Freitas] somados, e isso será importante para o MDB.”

Bolsonaristas no Congresso

“Na eleição de 2018 tivemos grande renovação, com figuras novas na política que efetivamente entregaram muito pouco resultado para a população. Tanto é que o perfil mudou em 2020, com o eleitor buscando mais segurança, candidatos mais capacitados e conhecidos para administrar as cidades. Acredito que nesta eleição a experiência valerá muito e teremos poucas aventuras, exatamente porque a renovação de 2018 não foi satisfatória.”

Orçamento secreto

“Tivemos uma disputa pela presidência da Câmara em que o Orçamento secreto foi crucial para que o aliado do presidente Jair Bolsonaro [Arthur Lira] pudesse ganhar a eleição. Mantenho as mesmas convicções que tinha quando apresentei minha candidatura: entendo que o Parlamento independente tem uma conexão com a vontade da população muito maior do que um Parlamento que atue como um puxadinho do Palácio do Planalto. Esse orçamento secreto precisa ser revisado, extinto. Não sou contra as emendas, uma das funções do parlamentar é poder viabilizar obras estruturantes, mas de forma transparente. E não dá para ter parlamentar de primeiro, segundo e terceiro escalão.”

Emendas na eleição

“[O Orçamento secreto] Tem muita influência. Parlamentares que levaram mais recursos para suas bases são mais competitivos, mas não é só isso que forma o voto. Se fosse assim, nunca teríamos as mudanças que tradicionalmente temos. Acredito que a renovação vai ficar dentro do índice histórico, de 50%, mas teremos a eleição de muitos ex-prefeitos, de ex-governadores, de ex-senadores, de pessoas que representam parcela da sociedade, como a indústria, o comércio, sindicatos. Acho mais difícil que o fenômeno [eleição de ‘outsiders’] de 2018 se repita.”

Presidência da Câmara

“As presidências da Câmara e do Senado em 2023 dependerão muito do resultado da eleição [de presidente]. Não há como falar em favoritismo do Arthur [Lira], do [Rodrigo] Pacheco ou de qualquer outro parlamentar. Só acho que uma Casa independente teria mais condições de defender a população e não impor uma pauta que muitas vezes prejudica o país.”

Reforma tributária

“Tínhamos proposta absolutamente pronta de reforma tributária dos impostos sobre o consumo, a PEC 45, com relatório lido e uma grande maioria dos parlamentares a favor, mas que simplesmente foi engavetada por picuinha política. O Arthur não teve a grandeza daquele que ganhou a eleição e simplesmente arquivou a reforma para tentar dificultar nosso trabalho.”

Valor Econômico