Vem aí a bancada trans na Câmara dos deputados

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Foto: Reprodução

A equipe de campanha da vereadora de Belo Horizonte e candidata a deputada estadual de Minas Gerais, Duda Salabert (PDT), define a contratação de escolta e carro blindado. Mulher transgênero, ela sofreu ameaça de morte de um grupo neonazista, logo que anunciou sua candidatura. O caso está sob investigação.

“Esse esquema de segurança é muito caro. Isso respinga no processo eleitoral, uma vez que parte do dinheiro que eu receber de campanha vou ter que destinar a segurança. Isso me coloca em desvantagem em relação a outros candidatos”, afirmou Duda Salabert, que ainda não tem definido o valor a receber do fundo partidário.

Não é a primeira ameaça que a candidata recebe. Quando foi eleita vereadora, em 2020, recebeu três ameaças de morte, também de um grupo neonazista. Por pressão desse grupo, que ameaçou assassinar crianças no Colégio Bernoulli, onde lecionava, Duda Salabert foi demitida da instituição.

A vereadora observou que há 13 anos consecutivos, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais, segundo relatório do Transgender Europe (TGEU), que monitora dados levantados por instituições trans e LGBTQIA+. Em 2021, foram 125 assassinatos no país. “Quando há inúmeras violências contra nossa identidade, isso exige maior participação nossa no espaço político institucional, porque é um espaço que promove mudanças”, disse a candidata.

Mesmo com parte do orçamento comprometido com segurança, Duda Salabert acredita que terá grande votação no Estado. Em 2020, foi a vereadora mais votada da história da capital mineira, eleita com 37.613 votos, e a primeira transexual eleita em Belo Horizonte. Em 2018, foi a primeira mulher trans a concorrer ao Senado e a quarta mulher mais votada no Estado, com 351.874 votos.

“Mais votos que o Aécio [Neves, do PSDB] vou ter, com certeza”, disse. Nas pesquisas eleitorais, o deputado tucano era o nome mais citado para concorrer ao Senado, antes de anunciar que tentará a releição. Duda Salabert pensou em tentar uma vaga no Senado, mas mudou de ideia após a aliança firmada entre o PDT e o PSDB. “Discordo dessa aliança por ter trazido consigo a turma do Aécio Neves”, disse.

A candidata considera que pelo menos duas pessoas trans devem se eleger na Câmara dos Deputados. Neste ano, 58 pessoas trans e travestis se candidataram, segundo levantamento do coletivo #VoteLGBT. Ela cita como um dos nomes fortes o da vereadora de São Paulo Erika Hilton (Psol). Outros nomes citados nas pesquisas eleitorais são da ex-BBB Ariadna Arantes (PSB-SP) e da ativista de direitos humanos Paula Benett (PSDB-DF).

Duda Salabert vê a possibilidade de se criar pela primeira vez uma bancada trans na Câmara. Ela disse que as candidatas conversam entre si sobre isso e pretendem estimular mais pessoas trans a se candidatarem no futuro. “O que a gente busca extrapola as ferramentas do Congresso. A gente busca a justiça social. Mas eu tenho uma expectativa boa”, disse.

Parte do otimismo deve-se à mudança no cenário político de 2018 a 2022. “Em 2018, tínhamos o Bolsonaro eleito, o [ex-ministro Sérgio] Moro visto como um herói e o [ministro da Economia] Paulo Guedes como um salvador da pátria. Agora o Guedes é considerado vergonha nacional, o Moro está desmoralizado. E o Bolsonaro está perdendo nas pesquisas”, avaliou.

Duda Salabert afirmou que está engajada com a candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República. Ela observou que o PDT tem um histórico de defesa da educação e de causas sociais. Em Brasília, a candidata pretende defender a democratização do ensino superior, reforma agrária popular, mudanças na legislação ambiental e o fim da mineração com destruição de aquíferos, entre outras causas.

Valor Econômico