Voto útil já tira votos de Ciro e dá a Lula

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Foto: José Cruz/Agência Brasil

O rompimento da aliança de 16 anos entre PT e PDT no Ceará embaralhou o tabuleiro político no terceiro maior colégio eleitoral do Nordeste e abriu uma disputa para atrair o apoio de prefeitos da base. Nas últimas semanas, o ex-governador petista Camilo Santana, candidato ao Senado, tem se reunido com dezenas de prefeitos para aglutinar apoios em torno da candidatura de seu correligionário Elmano de Freitas ao governo estadual. Já o grupo ligado a Ciro Gomes no PDT busca estancar a dissidência, atraindo lideranças de oposição no interior para a base de apoio ao candidato pedetista Roberto Cláudio.

O petista conseguiu o apoio surpreendente do prefeito de Caucaia, Vitor Valim (sem partido). O gestor foi eleito no segundo maior colégio eleitoral do Ceará, que tem 235 mil eleitores, com o apoio do atual candidato a governador Capitão Wagner (União Brasil), próximo ao bolsonarismo. Ex-apresentador de programa policial, ele compartilhava com o capitão a pauta da segurança pública e atuou durante anos na oposição ao governador Camilo. Valim ainda anunciou voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Este ano ele declarou apoio a Elmano, seu adversário pela Prefeitura de Caucaia há dois anos. Naquela ocasião, o candidato petista ficou em quarto lugar. “Quem realmente tem juízo, fica do lado correto, do lado do progresso”, disse nas redes sociais.

Santana tem buscado o maior número possível de prefeitos, inclusive aqueles das cidades pequenas. É o caso, por exemplo, do prefeito Joacy Alves do Santos, conhecido como Juju, prefeito de Jaguaribara, cidade de 8,6 mil eleitores, que deixou o PDT junto com a governadora do estado, Izolda Cela, que era a vice de Santana e foi vetada por Ciro como candidata à reeleição.

“Santana foi um governador diferenciado. Atendia na medida do possível”, justifica. Os convênios do Estado em parceria com os municípios garantem obras como estradas e areninhas de futebol em quase todo o Ceará, o que aumenta o capital político dos prefeitos de cidades pequenas, que têm recursos limitados para apresentar realizações.

Outro gestor que decidiu deixar o PDT para seguir Camilo e apoiar Elmano foi Carlos Áquila, de Moraújo, cidade de 7,5 mil eleitores. Áquila espera que o apoio a Camilo neste ano ajude a valorizar seu próprio capital político na cidade. “A simpatia popular é mais voltada para o Lula e o Camilo, então é mais fácil pra gente chegar numa casa, dizer tudo que ele fez pelo município e já somar com a simpatia daquela pessoa. Fica muito mais fácil a conquista do voto”, diz. Mesmo assim, ele mantém o apoio a Ciro Gomes para presidente.

Prefeitos que apoiam o PDT disseram ao Valor que talvez este apoio não reverta em uma atuação de fato em favor do PT durante a campanha. O argumento é que o apoio agora se dá de maneira constrangida, para garantir o pagamento de convênios nos próximos meses. Uma análise parecida é feita pelo presidente estadual do PDT, o deputado federal André Figueiredo. “Sabemos que muitos prefeitos, por conta de terem obras com o Governo do Estado, estão tendo que declarar apoio”, afirma. “Nós não temos a máquina administrativa para contrapor, e os prefeitos precisam de muitas obras para as suas respectivas prefeituras”.

O candidato do PDT, Roberto Cláudio espera compensar a perda de capital político com a escolha de seu vice, Domingos Filho (PSD), cujo partido é o terceiro com mais prefeituras no Estado, perdendo apenas para o PDT e o PT. Ex-vice-governador do Ceará, Domingos Filho é pai do deputado federal Domingos Neto (PSD), que foi relator geral do Orçamento em 2020 e um dos operadores das emendas RP-9, conhecidas como “orçamento secreto”.

Nos bastidores, correligionários de Roberto Cláudio dizem que o apoio de prefeitos estaria garantido como “gratidão” pelos recursos recebidos desta maneira. Domingos Neto garantiu um expressivo volume de recursos para os aliados de seu grupo político. O parlamentar rebate: “Além de a suposição ferir com a verdade, o que está ocorrendo são denúncias do uso da máquina pública e do orçamento do Governo do Estado para assédio e cooptação de prefeitos, tudo sendo divulgado nas redes sociais”, disse em nota.

Valor Econômico