Partidos dão mais verbas eleitorais a homens brancos
Foto: Jorge William
Dados sobre a primeira leva de repasses financeiros dos partidos aos candidatos nas eleições deste ano revelam que, nas duas primeiras semanas de campanha, as legendas privilegiaram candidatos brancos e homens. É o que mostra um levantamento feito pelo GLOBO com base nas prestações parciais de contas enviadas até ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Embora sejam quase metade do total de candidaturas, os concorrentes autodeclarados pretos e pardos receberam apenas 31% dos R$ 2,09 bilhões dos fundos eleitoral e partidário distribuídos até o momento por 27 siglas. Já os candidatos brancos, que são 48,5% do total, ficaram com 73% dos recursos públicos.
Quando analisada a média dos valores repassados, também há discrepância. Enquanto pretos e pardos receberam R$ 192,9 mil, os candidatos brancos tiveram repasse médio de R$ 343,4 mil.
Os números ainda podem mudar, porque a maior parte do fundo eleitoral não foi repartida. Ao todo, os partidos terão R$ 4,9 bilhões para financiar as campanhas. Entre as legendas, 17 têm distorções na proporção entre dinheiro e candidaturas acima de 10 pontos. Entre as maiores siglas, as discrepâncias mais expressivas ocorrem no PT, PSDB e PDT. Na sigla do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidatos negros representam metade dos candidatos, mas só receberam até o momento 21% dos fundos. O mesmo ocorre no PDT, de Ciro Gomes, em que estas candidaturas correspondem a 52% do total e somam apenas 24% dos recursos públicos. No PSDB, os candidatos pretos e pardos são 46% do total e ficaram com 17% dos repasses nos primeiros dias de campanha.
Hoje, os partidos precisam reservar ao menos 30% das candidaturas e 30% do fundo eleitoral para mulheres. No caso das candidaturas negras, não há uma cota, mas o repasse de recursos deve ser proporcional ao total de candidatos registrados pela sigla. Além disso, esta será a primeira eleição em que os votos dados a mulheres e negros contarão em dobro para a distribuição do fundo eleitoral entre os partidos.
Já as mulheres representam 34% dos candidatos e somam até o momento 27% do montante dos fundos públicos já distribuídos. Quando considerados apenas os cargos de deputada federal e estadual, a fatia das mulheres nos recursos chega a 29%. Em média, as candidatas receberam 24% menos que os homens nas corridas para os legislativos: R$ 169,3 mil, contra 221,7 mil.
Quando incluídas as disputas majoritárias, a média feminina salta para R$ 209,4 mil. O número é puxado por nomes como o da presidenciável Simone Tebet (MDB), segunda candidata que mais recebeu repasses no país, com R$ 30 milhões, atrás apenas do ex-presidente Lula, cuja campanha soma R$ 66,7 milhões.
No caso das candidaturas femininas, entre as maiores legendas, as discrepâncias são mais acentuadas no PSB e no PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. Se as mulheres são 33% e 32%, respectivamente, entre os candidatos das legendas, elas receberam até o momento 14% e 16%, respectivamente, dos recursos das siglas.
No PV, PSTU, PSOL, Solidariedade e Rede, por outro lado, as candidaturas femininas somam mais recursos que sua proporção no total de candidatos. No PT, do ex-presidente Lula, as mulheres são 37% dos candidatos e têm, por enquanto, 23% do fundo eleitoral e partidário.
Os dados também apontam que a disputa pela Câmara Federal tem tido prioridade. Pelas regras eleitorais, é o desempenho na votação para a Casa que define a distribuição de recursos para o pleito seguinte. Por enquanto, foram repassados R$ 1,1 bilhão para candidatos a deputado federal, 56% do repassado até o momento.