Bolsonaro não quer mais que polícia mate bandidos
Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE
O que fez Jair Bolsonaro mudar de opinião? E logo ele que sempre pregou: “Bandido bom é bandido morto”?
O país estava acostumado a ver seu presidente sair em defesa de policial que matasse bandido.
Agora, pela primeira vez, vê-se Bolsonaro preocupado com um bandido que pode ter sido executado pela polícia baiana.
O Natal mudou ou foi Bolsonaro? Estamos diante do que tantos esperavam – a normalização do antes tosco capitão?
Devagar com o andor. Bolsonaro não mudou um tantinho assim. E se mudou foi para pior.
Onde já se viu um presidente da República agredir uma jornalista com grosseiras insinuações sexuais?
Donal Trump, o ídolo de Bolsonaro, foi gravado dizendo baixarias sobre as mulheres e seu órgão genital.
Mas Trump não sabia que fora gravado. A gravação era antiga. Ele não seria louco de dizer o que disse diante de câmeras de TV.
O aprendiz superou o mestre. Achou que com o ataque à jornalista distrairia a atenção do público do caso do miliciano.
Milícia, miliciano, Marielle Franco, Queiroz e rachadinhas são fantasmas que assombram Bolsonaro e seus filhos.
O miliciano Adriano da Nóbrega, morto a tiros ou executado na Bahia, já foi defendido por Bolsonaro em discurso na Câmara.
Na época, era suspeito de assassinato. Isso não impediu Bolsonaro de tratá-lo como um herói.
Dois anos depois, Bolsonaro compareceu ao julgamento de Nóbrega e auxiliou com conselhos seus advogados de defesa.
Partiu de Bolsonaro a orientação para que seu filho Flávio, então deputado estadual, homenageasse Nóbrega duas vezes.
A primeira, por “relevantes serviços prestados” à Polícia Militar do Rio de Janeiro. Os serviços jamais foram nominados.
Em 2005, preso e acusado de homicídio, Nóbrega foi condecorado com a “Medalha Tiradentes”, a mais alta honraria da Assembleia.
Nóbrega já era um dos líderes do Escritório do Crime quando Flávio empregou no seu gabinete a mãe e a irmã dele.
Mais tarde, para engordar a rachadinha de Queiroz e Flávio, as duas devolveram 203 mil reais do dinheiro que haviam ganhado.
Milicianos e os Bolsonaro sempre se deram bem. Renanzinho, o Zero 4, namorou uma filha de Ronni Lessa. Que vem a ser…
Lessa foi o miliciano, vizinho de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, que matou a vereadora Marielle Franco.
Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal por apologia ao estupro. O processo foi suspenso porque ele se elegeu.
Nada lhe causa mais horror do que a possibilidade de ser apontado como cúmplice de matadores de aluguel.
Seus filhos padecem do mesmo horror. Acusá-los por tomarem parte dos salários de funcionários, não lhes mete tanto medo.
Pegaram carona no combate à corrupção por mero oportunismo político. O assunto já lhes rendeu o que tinha de render.
O maior inimigo da família é ela mesma. Hoje, os Bolsonaro só perderiam para os Bolsonaro. O pai parece se esforçar para isso.