Bolsonaro vai a Montevidéu para posse de amigo fascista
Foto: Mariana Greif/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro tem viagem marcada para a manhã do domingo (1º) para Montevidéu, onde participará à tarde da posse do novo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou. A previsão é que o presidente retorne a Brasília no fim do dia.
Eleito pelo Partido Nacional, de centro-direita, Lacalle Pou encerra o ciclo de 15 anos de governo no da coalizão de esquerda Frente Ampla, com dois mandatos de Tabaré Vázquez e um de Pepe Mujica.
De acordo com o secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas, embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, a posse de Lacalle Pou inaugura uma nova era nas relações diplomáticas entre Brasil e Uruguai. Ele falou com a imprensa durante uma apresentação no Palácio do Itamaraty, nesta sexta-feira (28), sobre a viagem de Bolsonaro.
“Essa visita, além do caráter protocolar, tem um simbolismo que inaugura, inicia uma nova etapa da relação com o Uruguai. Ficou claro, com o contato dos presidentes e durante a visita do futuro chanceler a Brasília, uma grande sintonia. Não só na agenda bilateral, como na agenda regional”, afirmou Costa e Silva.
O secretário disse ainda que a expectativa do governo brasileiro é que o novo presidente realize uma mudança na postura internacional do Uruguai em temas políticos da América do Sul, como a crise da Venezuela. Até então, o governo uruguaio não vinha adotando o mesmo tom crítico que o Brasil em relação à gestão do presidente venezuelano Nicolás Maduro.
“O elemento novo vai ser uma maior sintonia, uma maior possibilidade de trabalhar juntos nos temas regionais. Já recebemos indicações que haverá mudanças de posições em relação a temas centrais para o Brasil na agenda regional, como Venezuela e Bolívia. Eu imagino que isso terá impacto na atuação do Uruguai na OEA (Organização dos Estados Americanos)”, afirmou Costa e Silva.
De acordo o secretário, não está prevista nenhuma reunião bilateral do presidente brasileiro com outros chefes de Estado em Montevidéu. Ele adiantou que, entre os temas que serão tratados pelos dois países nos próximos anos, se destacarão o trabalho conjunto na região de fronteira, segurança, prestação de serviços públicos compartilhados e infraestrutura.
Ainda de acordo com Costa e Silva, Lacalle Pou deve visitar o Brasil no primeiro semestre de 2020. A proximidade entre Pou e Bolsonaro vêm desde as eleições uruguaias. O secretário lembrou que o presidente Bolsonaro foi o primeiro mandatário a cumprimentar o presidente eleito do Uruguai e a confirmar presença na posse.
A previsão é que as seguintes autoridades acompanhem Bolsonaro na viagem ao Uruguai:
Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores
Augusto Heleno, ministro do Gabinete da Segurança Institucional (GSI)
Senador Luis Carlos Heinze (PP-RS)
Deputado federal Celso Russomanno (Republicanos-SP)
Ministra Cristina Peduzzi, presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST)
A delegação brasileira participará de uma programação dividida em quatro solenidades. Uma sessão solene de honra e declaração de fidelidade constitucional, a cerimônia de transmissão de mandato presidencial, a cerimônia de posse dos novos ministros e o evento de cumprimentos protocolares dos chefes de delegações oficiais ao presidente do Uruguai e ao novo ministro das Relações Exteriores.
Participam também da posse os presidentes do Chile, Colômbia e Paraguai, os vice-presidentes da Costa Rica e Equador e outras autoridades da Argentina, Peru, Rei Filipe VI de Espanha, o ministro do Ambiente e transição Energética de Portugal e o Chanceler do México.
Filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle, o novo chefe de Estado era senador quando concorreu à Presidência pela segunda vez na carreira política. Derrotado em 2014, Lacalle Pou saiu vencedor no pleito de 2019 em uma disputa acirrada com o governista Daniel Martínez.
Crítico dos governos de esquerda na América Latina, Bolsonaro defendeu publicamente a candidatura de Lacalle Pou nas eleições do ano passado, a exemplo do que fez com a de Mauricio Macri na Argentina, derrotada pela chapa Alberto Fernández-Cristina Kirchner.
No caso do Uruguai, como o candidato de centro-direita foi eleito, Bolsonaro decidiu comparecer à posse, o que não aconteceu no dia em que o novo presidente argentino assumiu o posto. Bolsonaro enviou à solenidade, realizada em dezembro em Buenos Aires, o vice-presidente Hamilton Mourão. Foi a primeira vez desde 2003 que o chefe de Estado brasileiro não compareceu à posse de um presidente argentino.
Após trocas de farpas, Bolsonaro e Fernández ensaiam uma aproximação. Os dois chegaram a negociar uma reunião em Montevidéu, aproveitando a viagem para posse de Lacalle Pou, porém o presidente argentino não deverá comparecer. Uma nova data poderá ser acertada.
Advogado, casado e pai de três filhos, Luis Lacalle Pou assume o governo de país aos 46 anos de idade.
O novo presidente nasceu em Montevidéu em 11 de agosto de 1973, ano em que um golpe militar deu início a uma ditadura de 12 anos no Uruguai.
Lacalle Pou estudou em uma das melhores escolas da capital uruguaia e se tornou advogado no fim da década de 1990.
Durante a adolescência, seu pai, Luis Alberto Lacalle, tornou-se presidente do Uruguai também pelo Partido Nacional para um mandato entre 1990 e 1995.
As denúncias de corrupção surgidas durante o mandato do pai não inviabilizaram a carreira política de Lacalle Pou, eleito deputado em 1999. Doze anos mais tarde, ele presidiu Câmara dos Deputados e se tornou um dos principais nomes da oposição ao governo Mujica.
Em 2014, Lacalle Pou se candidatou pela primeira vez à Presidência do Uruguai e chegou ao segundo turno. Derrotado por Tabaré Vázquez por uma diferença superior a 10% dos votos, manteve o cargo de senador para o qual se elegeu naquele mesmo ano.
Nas eleições do ano passado, Lacalle Pou ficou atrás de Martínez no primeiro turno, mas costurou uma aliança com outros partidos e com os candidatos derrotados mais bem posicionados.
O novo presidente apostou em um discurso de enxugamento de gastos públicos e prometeu fortalecer as forças de segurança em um momento no qual o Uruguai passa por aumento nos índices de criminalidade.