Crivela prega a Witzel união da extrema-direita
Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), pediu ao governador Wilson Witzel (PSC) que sele a paz com presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O pedido foi feito em um jantar que durou duas horas no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, no último dia 9 deste mês.
Na ocasião, Witzel se referiu reiteradas vezes a Crivella como “bispo”. Em um encontro a portas fechadas, o termo agradou ao prefeito, que viu o gesto como reconhecimento de sua autoridade religiosa. O prefeito, por sua vez, citou a passagem bíblica de Caim e Abel para dizer que atritos como os protagonizados pelo governador e pelo presidente “não fazem bem a ninguém”.
Nos últimos meses, Witzel e Crivella trocaram farpas publicamente sobre diferentes assuntos, como a interdição da Avenida Niemeyer e o episódio de recolhimento de livros na Bienal. Crivella, contudo, afirmou no jantar que tanto o nome de Bolsonaro, de quem tem se aproximado, como o do governador “estão em suas orações”.
Antes de a política entrar em foco, ambos discutiram o repasse de recursos do Palácio Guanabara para o município para hospitais municipalizados em 2016 e a cessão de um terreno do estado em Deodoro para a construção de uma estação do BRT Transbrasil pela prefeitura.
Também foram abordadas pendências para a cessão, pelo município, do espaço que acabou sendo usado pelo estado como camarote na Sapucaí. Depois, Crivella falou sobre a relação conflituosa de Witzel com Bolsonaro.
— Esse cenário atual não é bom para ninguém. A paz é sempre benéfica. Gostaria muito que você e o presidente Bolsonaro voltassem a ter uma boa relação — disse, antes de citar a passagem bíblica de Caim e Abel, na qual é relatado o que teria sido o primeiro homicídio da história da humanidade, cometido entre irmãos.
Witzel, então, rebateu:
— Não sou eu quem tem problema com Bolsonaro. Ele é que tem comigo. Não sou eu quem quer guerra.
Ao fim do jantar, não ficou definida mudança de postura por nenhum dos lados, mas, nos últimos dias, Witzel reduziu as críticas a Bolsonaro, a quem chegou a comparar aos presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Alberto Fujimori (Peru) em dezembro.
Perguntado por jornalistas sobre a crítica da escola de samba Acadêmicos de Vigário Geral a Bolsonaro, Witzel afirmou esta semana que “acha que toda crítica é bem-vinda, desde que seja respeitosa”, dando a entender, nas entrelinhas, que não aprova a atitude da agremiação, que retratou o presidente como um palhaço. O governador também evitou criticar a proximidade de Crivella com Bolsonaro, limitando-se a dizer que faria comentários sobre seu partido, o PSC.
Também participaram do jantar o secretário de Governo de Witzel, Cleiton Rodrigues, e o secretário municipal de Ordem Pública, Gutemberg Fonseca, que tem auxiliado Crivella na aproximação com Bolsonaro. Obter o apoio presidencial é a principal aposta do prefeito para chegar ao segundo turno da eleição municipal.
Apesar do encontro com Crivella, Witzel não desistiu de lançar um candidato de seu partido, o PSC, à prefeitura. Nesta segunda-feira, o governador anunciou o nome do economista Paulo Rabello de Castro como a aposta do partido para o pleito municipal.
Paulo Rabello foi presidente do BNDES e do IBGE na gestão do ex-presidente Michel Temer e se colocou à disposição do partido para disputar as eleições de outubro.
Em 2018, o economista se candidatou a vice-presidente da República na chapa de Álvaro Dias (Podemos), mas a dupla não chegou ao segundo turno. Neste domingo, Rabello de Castro assistiu aos desfiles na Sapucaí no camarote do governador.