Direita quer trocar Bolsonaro por Moro em 2022
Foto: Jorge William / Agência O Globo
Alvaro Dias se recorda bem das promessas de Jair Bolsonaro, seu adversário na eleição de 2018, de que seria implacável no combate à corrupção. Hoje, diz que o primeiro ano de governo foi “pífio” nessa agenda.
Em entrevista à coluna, Dias afirmou que, na contramão dessa tendência, Sergio Moro seria o candidato natural do Podemos à Presidência, caso o ministro se filie ao partido.
“Ele é a autoridade mais popular do país, pela sua trajetória como juiz, e não no governo Bolsonaro”.
Mas, por enquanto, o senador jura que não formalizou um convite a Moro:
“Ele já tem uma relação tumultuada com Bolsonaro. Não queremos dificultar mais”.
Leia a entrevista.
Como está o combate à corrupção na gestão Bolsonaro?
Pífio e frustrante. O combate à corrupção foi a prioridade absoluta nas campanhas eleitorais. Mas alguns se esqueceram disso. Bolsonaro fulminou o Coaf e a Receita Federal, fez substituições na Polícia Federal. A Lava Jato era mais forte institucionalmente no governo Temer, que era denunciado duas vezes por corrupção pela PGR [Procuradoria-Geral da República], do que hoje. Naquele tempo, Polícia Federal, Ministério Público e Receita Federal eram instituições independentes, autônomas e que não recebiam ameaças. Estamos caindo no ranking da Transparência Internacional. Tivemos retrocessos imperdoáveis. Suspeito de uma conspiração dos Três Poderes contra a Lava Jato.
O senhor continuará trabalhando pela CPI da Lava Toga?
Vamos nos reunir na próxima semana para discutir as pautas deste ano. Mas vamos colocar como prioridade o fim do foro privilegiado e a prisão em segunda instância. Houve uma estratégia para atrasar a aprovação no Congresso da prisão em segunda instância. O próprio líder do governo agiu para estancar a tramitação no Senado, e evitar que a pauta fosse direto para a Câmara. Também precisamos preencher os vazios deixados pelo pacote anticrime, especialmente em crimes contra a Administração Pública. Relatei há anos um projeto aprovado aqui no Senado que tornava corrupção um crime hediondo. Ainda não recebeu aval da Câmara.
Há espaço para a reeleição de Davi Alcolumbre?
A legislação não permite. O princípio da anualidade indica que, mesmo que a lei seja mudada agora, a reeleição não seria possível a reeleição.
O senhor se decepcionou com Davi?
É evidente que o ritmo de reformas do governo não me satisfaz. Mas é o Poder Executivo o responsável por estarmos patinando nas reformas. As reformas só vão acontecer se o presidente da República assumir a liderança desse processo, com articulação política. Isso não aconteceu. Houve um vazio, e isso aumentou a responsabilidade dos presidentes da Câmara e do Senado. Por isso, batemos cabeça aqui. Olhe a reforma tributária. O governo não não se interessa, e a Câmara apresentou um projeto, e o Senado, outro.
O Podemos está de portas abertas para Sergio Moro?
Sem dúvida. Ele tem o perfil do Podemos. Mas não queremos constrangê-lo. Em nenhum momento o convidamos. Sabemos que ele já tem uma relação tumultuada com Bolsonaro. Não queremos dificultar mais. Evidentemente, se ele desejar, será muito bem-vindo. Esse assunto certamente o constrange e tumultua, porque ele é ministro e é leal a seu presidente.
O senhor defende que Moro concorra ao Planalto em 2022?
Certamente. Ele é a autoridade mais popular do país. Ele adquiriu um patrimônio na Lava Jato que não se esgota facilmente. Isso permite que ele possa ter alguns reveses, por dificuldades impostas por Bolsonaro, sem abalar seu conceito. O Moro juiz era o senhor das suas ações. Como ministro, depende do presidente.
Com a filiação de Moro, o senhor abriria mão de se candidatar?
Se o Moro vem para o partido hoje, é evidente que ele é o candidato natural, é o mais popular. Isso pela sua trajetória como juiz, e não no governo Bolsonaro. O Podemos certamente terá candidato próprio a presidente. Posso ser candidato de novo. Mas o candidato será o que tiver a maior possibilidade de vitória.
Bolsonaro é justo com Moro?
Não. Moro seria um ministro ainda mais eficiente se tivesse a cobertura do presidente.
Quais são os planos da sigla para as eleições municipais?
Fomos o partido que mais cresceu em filiações, mas ainda precisamos de estrutura. Não teremos um número expressivo de candidatos às prefeituras, mas queremos chegar em 2022 com um partido musculoso. No Norte e Nordeste, termos candidato em Manaus, Porto Velho, Belém, Recife, São Luís, Aracaju, Maceió, Salvador.
O senhor ainda defende Selma Arruda, sua colega de partido cassada pelo TSE?
Ela é competente, ética e corajosa. Está sendo tremendamente injustiçada. Foi retaliada porque, quando era juíza, prendeu o governador e vários secretários. Temos o dever de ir até as últimas consequências na defesa de seu mandato. Ela tem recursos que já estão sendo levados ao STF. E no Senado ela tem direito à ampla defesa. Por que só há pressa neste caso? Já programaram eleição para abril. Um estado pode ficar sub-representado por até 15 meses. Não podemos nos colocar acima da lei.
O apoio dos lavajatistas ao governo Bolsonaro já mostra desgaste?
O sinal de alerta foi ligado. Quem se elegeu prometendo combater a corrupção e recuou, certamente receberá a conta. No primeiro ano, ainda há o recall da campanha, o desgaste ainda não é tão grande. A cobrança virá depois.