Ex-diretor do FMI diz que Bolsonaro tem ‘complexo de vira-lata’
Foto : Comunicação/FCE UFRGS
O economista e professor Paulo Nogueira Batista Júnior disse, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (6), o “complexo vira-lata” do brasileiro atingiu seu apogeu no governo do presidente Jair Bolsonaro.
A expressão foi criada pelo escritor Nelson Rodrigues para falar sobre a posição de inferioridade que o brasileiro se colocaria em relação ao resto do mundo.
“No governo Bolsonaro, infelizmente, o complexo vira-lata alcançou seu apogeu e se incorporou de maneira descarada às ações do presidente da República. Esse comportamento em relação à China mostra total irracionalidade, despreparo e vontade absolutamente ridícula de agradar aos EUA e especialmente o presidente Trump. O Brasil, pelo seu tamanho, não cabe no quintal de ninguém, pelo seu tamanho geográfico e econômico, mas tem um presidente que cabe no quintal de qualquer um. Minha grande angústia no momento é como vai resolver essa contradição. Estamos vivendo um momento de maior gravidade”, avaliou.
Paulo é autor do livro “O Brasil não cabe no quintal de ninguém”, que analisa a posição do Brasil no mundo e conta bastidores da sua experiência como ex-diretor do FMI e ex-vice-presidente do novo Banco de Desenvolvimento dos Brics. Quando era candidato, o presidente fez críticas à China, mas, ao visitar o país, no ano passado, disse que estava em um país capitalista.
O economista destaca que a sua avaliação sobre o governo brasileiro não está relacionada a qualquer posicionamento partidário.
“Eu quero que o ouvinte entenda que isso não tem a ver com opinião partidária e não tem nada a ver com simpatias com o partido X, Y ou X, antipatias com o presidente, mas preocupação com situação fundamental do país, que nunca esteve tão ameaçada. Em um ano de governo, produziu tanta destruição, que é inacreditável o que está acontecendo na área da saúde, da cultura, da educação, da política externa, na área econômica e do setor público. É como se o Brasil tivesse voluntariamente aceito uma autodestruição, elegendo um governo sem noção, sem projeto, ou melhor, com projeto de destruição”, aponta.
Paulo acredita ainda que, apesar de os impactos do novo coronavírus para economia serem significativos, podem não se prolongar.
“Já está tendo peso significativo, mas pode não durar muito. Tudo vai depender da eficácia da reação das autoridades, principalmente da China. A importância do vírus é que atinge áreas muito populosas, em um país de maior importância para a economia mundial, a China, e importante para o Brasil, porque desde 2009, há mais de 10 anos, é o principal parceiro comercial ao Brasil”, alerta.