Exportações desabam e contas externas pioram
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As exportações iniciaram o ano em queda. O total embarcado pelo país em janeiro somou US$ 14,43 bilhões, com recuo de 20,2% na média diária contra igual mês do ano passado. Para analistas, a queda reflete ainda o cenário de desaceleração da economia global, mesmo com as perspectivas de pequena recuperação no decorrer de 2020. O efeito do acordo entre China e Estados Unidos também contribuiu para a redução, com decréscimo nos preços da soja, segundo analistas. Outro fator foi a base alta de comparação, já que em janeiro do ano passado houve um embarque de plataforma de petróleo em valor que não se repetiu neste ano.
Com o recuo das exportações, o saldo da balança comercial mudou de sinal. O superávit de US$ 1,7 bilhão de janeiro de 2019 deu lugar a um déficit de US$ 1,75 bilhão no primeiro mês do ano. É o pior resultado para o mês desde 2015, quando houve déficit de US$ 3,185 bilhões. As importações alcançaram US$ 16,18 bilhões em janeiro e tiveram queda, também pela média diária, de 1,3% sobre igual período do ano passado.
A queda nas exportações foi generalizada. Os básicos caíram 11,9% em janeiro em relação ao mesmo mês de 2019, considerando a média diária de embarques. Os semimanufaturados caíram 25,2%, e os manufaturados, 27,7%.
No grupo dos básicos, a retração na demanda internacional se reflete em queda de volumes de embarque em janeiro para os principais produtos da pauta de exportação brasileira: minério de ferro, petróleo e soja.
No caso do petróleo e da soja houve também redução de preços, destaca José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Os preços de petróleo caíram 17,8% em janeiro contra igual período de 2019 enquanto os volumes recuaram 13,8%. Os preços de exportação do produto, diz Castro, devem baixar ainda mais, tendo em vista a evolução mais recente das cotações do mercado internacional. Já na soja, em que a queda de 26,9% no volume de embarque foi acompanhada por redução de 8,7% nos preços, avalia, há a influência do recente acordo selado entre os Estados Unidos e a China. Por esse acordo, o país asiático deve priorizar a compra de grãos produzidos pelos americanos.
Além da queda na exportação de petróleo e de grãos, o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior, Herlon Brandão, diz que o desempenho foi influenciado pela base de comparação. Segundo ele, a base estava inflada pela exportação de uma plataforma de petróleo em janeiro de 2019 (US$ 1,3 bilhão) e pelo embarque recorde de celulose naquele mês (US$ 1 bilhão).
“O mês de janeiro é sazonalmente baixo, de volume baixo. Mas esse foi atípico por causa dos menores movimentos de grãos. Esperamos que esses embarques entrem mais fortes nos próximos meses”, disse. Brandão destacou que a colheita de soja está atrasada neste ano e que a demanda chinesa pelo item já vem caindo, devido à peste suína, que reduziu a busca pelo grão, usado como ração. Acrescentou, ainda, que as exportações como um todo vêm se reduzindo nos últimos meses em um cenário de desempenho mais fraco da atividade econômica mundial.
Brandão negou que o recuo nas vendas esteja ligado à epidemia de coronavírus. “Conversamos com alguns exportadores e até agora não há nenhum relato de impacto do coronavírus em operações portuárias”, colocou. O subsecretário afirmou que o governo brasileiro está monitorando a situação e que, se houver um maior impacto sobre a economia chinesa, é possível que o Brasil seja afetado. “A China é o principal parceiro comercial de sete em cada dez economias no mundo”, completou.
Brandão avalia que, mesmo que haja redução da produção chinesa, a tendência é que as exportações de alimentos não sejam tão impactadas, por estarem “menos sujeitas à diminuição da atividade econômica”. Insumos industriais, como minério de ferro, por sua vez, podem ser mais afetados.
Em janeiro as vendas para China, Hong Kong e Macau totalizaram US$ 3,67 bilhões, com queda de 9,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior. As vendas totais para a Ásia recuaram 5%.
Nas importações, a alta da compra de bens de consumo chama a atenção dos analistas. O desembarque de bens de consumo cresceu 6,9% na média diária em janeiro contra igual mês do ano passado. A alta foi puxada pelos não duráveis, que avançaram 17,7%. Os semiduráveis cresceram de forma bem mais modesta, em 0,9%.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), diz que, apesar do sinal positivo dado pelo crescimento dessas importações, há ainda dúvida sobre o patamar de crescimento. “A tendência esperada para o ano é essa, mas é ainda cedo para saber se esse nível de crescimento é mais pontual ou não”, diz. A dúvida surge porque a recuperação do emprego ainda é relativa. Os empregos que mais cresceram, destaca, tiveram perda de renda real. “O oxigênio para o aumento da demanda doméstica tem sido o crédito.” Outra variável para o desempenho das importações, diz ele, é o câmbio, que não é por enquanto muito favorável.