França ridiculariza paranoia de militares brasileiros
Foto: Brendan Smialowski / AFP
Em resposta à informação confidencial de que o Brasil considera o país europeu como sendo a sua principal ameaça nos próximos 20 anos, a Embaixada da França mencionou a “imaginação sem limites” dos autores da minuta do Ministério da Defesa brasileiro.
No documento secreto, obtido pelo jornal Folha de S. Paulo, o Brasil cita a França como sendo a maior ameaça para o país nos próximos 20 anos, sob justificativa das tensões na Amazônia, onde os dois países possuem uma fronteira comum.
Paris, responsável pela fronteira da Guiana Francesa com o território brasileiro, no entanto, não levou a minuta a sério.
“Forças Armadas de todos os países realizam frequentemente esse tipo de exercício de análise de cenários. Entretanto, nós saudamos a imaginação sem limites dos autores desse relatório”, indicou a Embaixada Francesa em sua conta no Twitter.
A minuta confidencial, intitulada “Cenários de Defesa 2040”, foi elaborada a partir de entrevistas com 500 membros da elite militar brasileira em onze reuniões que ocorreram ao longo do segundo semestre de 2019.
Segundo a Folha de S.Paulo, o documento, de 45 páginas, “traz considerações geopolíticas realistas e hipóteses algo delirantes”, como a de um atentado biológico em que “ultranacionalistas do Sudeste Asiático” espalham o coronavírus que provoca a Sars durante a edição do Rock in Rio em 2039.
A França é o único país citado como ameaça nos quatro cenários imaginados no documento. Em um deles, espera-se que até 2035 a França formalize um “pedido de intervenção das Nações Unidas na Região Ianomâmi, anunciando o seu irrestrito apoio ao movimento de emancipação daquele povo indígena”, seguido de mobilização de “um grande efetivo suas forças armadas, posicionando-os na Guiana Francesa”.
“O fato é que o Brasil é o nosso principal parceiro estratégico na América Latina e que a França conserva, há décadas, relações de cooperação diárias, estreitas e amigáveis com as Forças Armadas brasileiras”, acrescenta a diplomacia francesa no Twitter.
Nelson Düring, à frente do site especializado em notícias militares, o Defesanet, disse à AFP que o documento “pega as coisas reais, outras muito loucas”. “Vejo muita incoerência” e o reflexo de uma “diplomacia por impulso”. Segundo Düring, as considerações contidas na minuta estão “muito contaminadas pela discussão entre Macron e Bolsonaro”, acrescenta.
A tensão entre os dois países ganhou força em agosto passado, quando imagens dos incêndios na Amazônia causaram comoção internacional.