Governadores exigem que Bolsonaro converse
Foto: Rafaela Felicciano / Metrópoles
Os governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), fizeram ontem um apelo por diálogo com o governo federal, mas reforçaram as críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Apesar de 20 governadores terem divulgado uma carta na segunda-feira cobrando respeito à democracia e ao pacto federativo e questionando declarações do presidente sobre a morte do miliciano Adriano da Nóbrega, Bolsonaro subiu o tom ontem contra os signatários do documento.
Witzel comparou as críticas de Bolsonaro contra o governador da Bahia, Rui Costa (PT), com as que já recebeu do presidente. “Já fui vítima de acusações levianas”, afirmou o governador do Rio, em evento do BTG Pactual para investidores, em São Paulo. “Fui acusado de manipular o Judiciário, o Ministério Público. Jamais faria isso”, disse Witzel, lembrando que foi atacado por Bolsonaro durante as investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco. “Fiquei perplexo com acusação contra Rui Costa”, disse.
No fim de semana, Bolsonaro vinculou a morte do miliciano, ligado à família do presidente, ao governo da Bahia e ao PT e disse que foi uma “queima de arquivo” comandada por Costa. Na carta divulgada na segunda-feira, os 20 governadores criticaram as declarações do presidente.
O governador do Rio cobrou uma postura mais republicana do presidente. “Queremos discutir o Brasil de forma clara. Ele tem que conversar com os líderes, fazer o que todo governante faz”, disse. “O presidente precisa entender que não se pode antecipar investigações. É preciso deixar a polícia investigar, o poder Judiciário decidir. Não nos cabe, como governantes, fazer nenhum tipo de análise que pode, inclusive, ser incorreta. Nós, como governantes, temos que dar crédito às instituições”.
Doria disse que os governadores estão dispostos a conversar com o presidente “com altivez, de forma republicana”, e que esperam Bolsonaro marcar um encontro. No evento com investidores, o tucano, que se encontra hoje em Brasília com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que “se as relações com o presidente fossem boas, não teriam 20 governadores protestando”. “Bolsonaro precisa de boa dose de humildade. Precisa dialogar com todos os governadores. Há um chamamento dos governadores para que Bolsonaro venha ao diálogo e respeite a democracia”, afirmou o governador paulista.
No comando do governo gaúcho, Eduardo Leite reforçou o apelo pela abertura de diálogo com o presidente. “O mais importante é que possamos sentar e conversar. É chegada a hora em que possamos compreender no Brasil que pacto federativo, que tanto se discute nesse país, é muito mais do que distribuição de recursos arrecadados, na distribuição da receita tributária”, afirmou à imprensa, antes de participar de evento do BTG Pactual, em São Paulo. “O pacto federativo é compreender que não temos o poder concentrado nas mãos de ninguém. O poder está distribuído entre Poderes e instâncias federativas. Uma parcela do poder está nas mãos do presidente, dos governadores, dos prefeitos”, disse.