Guedes: “A mãe do meu pai foi doméstica”
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Depois de sentir na pele a repercussão de sua fala sobre empregadas domésticas irem à Disneylândia, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu desculpas pela declaração. Ao justificar sua máxima utilizada para defender o dólar em novos e altíssimos patamares, o chefe da Economia reiterou que sua avó era empregada doméstica. “Eu peço desculpas se tiver ofendido”, iniciou. “A mãe do meu pai foi empregada doméstica, qual o problema de fazer uma referência como essa?”, justificou o impropério. Mais uma vez, sem citar a imprensa, o ministro reclamou que a frase foi tirada do contexto. “Quem tira de contexto o que nós falamos está semeando discórdia”, afirmou ele em um evento no Palácio do Planalto na manhã desta quinta-feira, 20.
No último dia 12, o ministro disse que o dólar baixo proporcionava uma “festa danada” e que todo mundo, até as domésticas, estava indo para a terra do Mickey e do Pateta — e que o Brasil tinha destinos interessantes. Apesar da fala de Guedes em defesa do dólar alto, no dia seguinte o Banco Central injetou a moeda americana no mercado para segurar o voo das cotações. A instituição anunciou um leilão da moeda americana para esta quinta para controlar a alta. Momentaneamente, ajudou. A variação inverteu e a moeda americana passou a cair em relação ao real. Às 11h30, estava cotada a 4,31 reais. Nos dias seguintes, a alta continuou e, às 12h desta quinta, valia 4,38 reais. Especialistas alertam que, se a instituição comandada por Roberto Campos Neto não reagir, a moeda pode ultrapassar os 4,40 reais. A fala, aliada à máxima em que comparou funcionários públicos a parasitas, fez a tensão entre o governo e o Congresso Nacional aumentar e colocar em xeque a apresentação da reforma administrativa.
As desculpas de Guedes foram dadas num evento de anúncio de novas linhas de crédito da Caixa Econômica Federal, com taxas de juros fixas, quando evocou as domésticas para dizer que a medida beneficiaria as classes mais baixas. Em busca de conter os ânimos dos investidores, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirma que a autoridade monetária está tranquila em relação à variação do dólar, e que essa movimentação não é reflexo de uma piora na percepção de risco na economia brasileira.
Fora a política do ministro e as intenções expressas de manter o dólar em patamares elevados, um dos fatores que explica a alta do dólar em relação ao real é o impacto que a epidemia do novo coronavírus tem causado na produção da indústria e no consumo mundo afora. Analistas consultados por VEJA não esperam uma normalização cambial a curto prazo — e o retorno aos patamares antigos parece uma realidade distante.