Juiz do Rio quer destruir corpo de miliciano
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O juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, afirmou que ‘não há necessidade’ de conservação do corpo do ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega, apontado como chefe da milícia Escritório do Crime, suspeita de envolvido na morte da ex-vereadora Marielle Franco. O ex-capitão foi morto no último dia 09, em Esplanada, no interior da Bahia.
A determinação do juiz foi proferida em sentença que extingue a punibilidade de Nóbrega em ação criminal envolvendo outros doze militares acusados de envolvimento com o Escritório do Crime.
A decisão, inclusive, é oposta à proferida inicialmente pelo juiz Kalil na sexta-feira passada, 14, quando determinou a conservação do corpo em câmara de refrigeração até a realização de todas as diligências para sanar as diligências envolvendo a morte do ex-PM.
“A ordem exarada aos 14/02/2020 está revogada, não havendo mais, ao menos não por ordem deste juízo, necessidade de conservação do corpo nem de novos exames periciais”, afirma Gustavo Kalil. “A competência para tanto é do Juízo da Comarca de Esplanada/BA”.
Familiares de Adriano da Nóbrega pedem na Justiça o direito de cremar o corpo do ex-capitão. O pedido, no entanto, havia sido negado na semana passada pela Maria Izabel Pena Pieranti, do Plantão Judiciário, que alegou ausência de documentos.
Procurado pela reportagem, o advogado que representou Nóbrega, Paulo Catta Preta, afirma que ‘causa perplexidade e estranheza o desinteresse em adotar cautela tão simples quanto necessária’. “Prorroga-se apenas a dor dos familiares e as dúvidas que pairam sobre a morte de Adriano”.
“Causa perplexidade e estranheza o desinteresse em adotar cautela tão simples como necessária. O juízo onde está localizado o corpo tem poderes para determinar a conservação, tanto assim que já o tinha feito anteriormente. Prorroga-se apenas a dor dos familiares e as dúvidas que pairam sobre a morte de Adriano”, afirma.
Queima de arquivo. O ex-PM foi localizado pelo Serviço de Inteligência da polícia baiana em um sítio no interior do Estado. A versão da corporação é que Nóbrega trocou tiros com agentes, foi baleado e socorrido em um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
No entanto, o próprio Adriano estava convencido de que estava sendo procurado para suposta ‘queima de arquivo’. O relato foi narrado por Paulo Catta Preta e pela viúva do miliciano.
Acusado de integrar o Escritório do Crime, milícia suspeita de envolvimento na morte de Marielle Franco, Adriano da Nóbrega trabalhou no 18º Batalhão da PM com Fabrício Queiroz, o ex-assessor de gabinete de Flávio Bolsonaro, investigado por lavagem de dinheiro no esquema de “rachadinha” na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj).
Ao deflagrar operação contra endereços ligados a Queiroz e Flávio Bolsonaro em novembro do ano passado, o Ministério Público detalhou conversas entre Nóbrega e sua ex-esposa, Danielle, que era funcionária do gabinete do então deputado estadual na Alerj.
Após reportagem do ‘Estado’ revelar movimentações atípicas de Queiroz, Danielle foi exonerada do cargo e cobrou explicações do miliciano em mensagens obtidas pela promotoria. Nelas, a ex-esposa de Adriano da Nóbrega afirma que ele também se beneficiava do suposto esquema de ‘rachadinhas’.