Antes da crise, desemprego disparou
Foto: Reinaldo Canato/VEJA.com
A taxa de desemprego no Brasil subiu para 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro, atingindo 12,3 milhões de pessoas, informou nesta terça-feira, 31, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento, na comparação com o trimestre terminado em novembro (11,2%), interrompeu dois trimestres seguidos de quedas no índice de desemprego.
O aumento do desemprego, no momento, não tem relação com o coronavírus. A analista de pesquisa do IBGE, Adriana Beringuy, afirma que há um fator sazonal no início do ano que colabora com a redução da ocupação. “É normal que no início do ano ocorra essa interrupção, porque já vínhamos numa trajetória de taxas declinantes no fim do ano. Não tínhamos visto essa reversão em janeiro, no entanto, ela veio agora no mês de fevereiro, provocada por uma queda na quantidade de pessoas ocupadas e um aumento na procura por trabalho”, disse.
Na comparação com o mesmo período de 2019, entretanto a taxa de desemprego caiu. No ano passado, o índice para o trimestre encerrado em fevereiro ficou em 12,4%. Adriana observa, ainda, que o aumento na desocupação não veio do comércio, setor que, tradicionalmente, costuma demitir no início do ano os profissionais contratados temporariamente para o Natal. Desta vez, a alta na taxa foi puxada pelos setores de construção (-4,4%), administração pública (-2,3%) e também pelos serviços domésticos (-2,4%).
“A construção não sustentou o movimento de recuperação que ela vinha apresentando no fim do ano passado. Já a administração pública tem uma sazonalidade, pois ela dispensa pessoas no fim e no início do ano em função de términos nos contratos temporários das prefeituras, nas áreas de educação e saúde, retomando as contratações a partir de março, após a aprovação dos orçamentos municipais. O serviço doméstico está muito ligado ao período de férias das famílias, as dispensas das diaristas, já que muitas famílias viajam, interrompendo a demanda por esse serviço”, avalia Beringuy.
O primeiro caso de coronavírus no país foi registrado no fim de fevereiro e, em março, alguns estados e municípios passaram a adotar medidas de distanciamento social para a contenção da disseminação da Covid-19. Comércio e serviços não essenciais foram os setores mais afetados por decretos municipais, o que pode refletir na taxa divulgada no próximo mês.
A taxa de informalidade caiu de 41,1% no trimestre de setembro a novembro de 2019 para 40,6% no trimestre encerrado em fevereiro deste ano, mais ainda representando um total de 38 milhões de informais. Nesse grupo estão os trabalhadores sem carteira, trabalhadores domésticos sem carteira, empregadores sem CNPJ, os conta própria sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.
De acordo com Adriana, essa queda da informalidade está concentrada na redução de contingentes de trabalhadores por conta própria sem CNPJ e também de trabalhadores empregados sem carteira. “A gente ainda vive sob a influência do mês de dezembro, em que tivemos um desempenho muito bom das contratações com carteira trabalho. Muitas pessoas foram contratadas via carteira de trabalho no comércio, o que deu um pouco mais de consistência aos dados de formalidade. Isso pode estar contribuindo para a queda na quantidade de informais”, avaliou ela.
Outro reflexo da queda da informalidade foi o aumento no rendimento, que subiu para 2.375 reais, alta de 1,8% no trimestre encerrado fevereiro, frente ao trimestre anterior.
“Na medida em que se tem um contingente menor de trabalhadores na informalidade, permanecem no mercado pessoas em atividades mais formalizadas e com melhores remunerações, em setores como a indústria e alguns segmentos do comércio. Não vimos isso nas últimas PNADs, até porque a informalidade estava em trajetória de crescimento”, afirmou a analista da pesquisa. Já em relação ao mesmo trimestre do ano passado, a alta foi mais intensa, de 3,9%.
O trabalho de informais com a crise do coronavírus é uma das maiores preocupações do governo. Sem ter garantias trabalhistas como Fundo de Garantia e aviso prévio, o Congresso Nacional aprovou um projeto de auxílio para estes trabalhadores que disponibiliza 600 reais por até três meses. Para começar a valer, é necessária a sanção do Presidente da República.
Como medida de evitar a propagação do coronavírus, o IBGE está coletando os dados da PNAD Contínua somente por telefone durante o período de isolamento social. Segundo o instituto, a medida visa seguir as orientações do Ministério da Saúde relacionadas ao quadro de emergência de saúde pública.