Bolsonaro já se arrepende de afrontar Congresso
Foto: Agência O Globo
Enquanto o Congresso deu o primeiro passo na aprovação do projeto que transfere R$ 19 bilhões do Orçamento de 2020 para o controle dos parlamentares, o presidente Jair Bolsonaro comandou uma reunião com integrantes da sua equipe em clima de apreensão e busca recomeçar a negociação do zero indicando um novo interlocutor, o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira.
A Comissão Mista de Orçamento decidiu aprovar sem qualquer mudança a proposta enviada por Bolsonaro, em uma tentativa de constrangê-lo ainda mais caso insista em recuar no acordo firmado. O relator, Cacá Leão (PP-BA), desistiu de alterar qualquer trecho com o objetivo de evitar dúvidas sobre as intenções dos parlamentares. Entre os deputados, o projeto foi aprovado por 19 votos a cinco. No Senado, o placar foi de 7 a 1. Deputados do Novo e senadores do “Muda Senado”, grupo que se diz alinhado à “nova política”, tentaram obstruir a votação, mas sem sucesso.
No governo, uma reunião no gabinete de Bolsonaro com ministros e líderes do governo teve clima tenso, especialmente no debate interno sobre a responsabilidade pelo envio da proposta. O presidente precisou por panos quentes e escalou Oliveira para “resolver” o impasse. Logo após o encontro, o ministro já procurou o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para dar início às tratativas. Os dois almoçaram juntos. Depois, Oliveira passou a tarde reunido com parlamentares. A rodada de conversas no Senado não contou com a participação do articulador político do governo, ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
Na reunião com Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, demonstrou preocupação com o cenário econômico mundial. Guedes pediu que líderes tentassem ajudar nas negociações para que o Congresso desse andamento às pautas em tramitação. Na noite anterior, um ofício enviado pelo ministro da Economia ao Congresso causou mal-estar ao pegar de surpresa ministros da Esplanada.
Segundo um dos presentes, o ministro da Economia afirmou que as pautas enviadas por ele ao Congresso podem ser usadas como contrapartida das Casas para aprovação do texto que muda o orçamento impositivo, já que deputados e senadores terão autonomia para indicar a execução de recursos. O acordo anteriormente costurado pelo governo não previa essa troca.
Participaram da reunião os ministros Paulo Guedes, Jorge Oliveira e Luiz Eduardo Ramos, além dos líderes de governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), na Câmara, Vitor Hugo (PSL-GO), e, no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO). Não participaram os presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Questionado por jornalistas, no Alvorado, sobre a ausência de Maia e Alcolumbre, Bolsonaro afirmou:
— Conversei com muita gente hoje, não conversei com os dois. Teve ministro meu que já conversou com o Alcolumbre hoje também. Estamos negociando, conversando, para que chegue a bom termo essa questão do Orçamento — disse.
Paralelamente à reunião entre Bolsonaro e seus ministros, o presidente do Senado recebeu, ao longo do dia, cerca de 40 senadores e os ministros Ramos, Oliveira e Guedes. Nas conversas, Alcolumbre expôs a indisposição dos congressistas após as declarações de Bolsonaro e afirmou que os líderes perderam a confiança no governo. À tarde, os congressistas derrubaram um veto presidencial e permitiram a ampliação do número de pessoas que poderão ter acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), com impacto de R$ 20 bilhões já neste ano.
Nas conversas com parlamentares, Alcolumbre tentou selar um pacto: não amplificar declarações polêmicas de Bolsonaro. A ideia é não dar palanque ao presidente, repercutindo suas falas. O exemplo citado foi a declaração sobre a possibilidade de fraude eleitoral, o que foi considerado no Congresso como um “disparate”. Segundo aliados de Alcolumbre, a relação entre ele e Bolsonaro é a pior desde que ambos passaram a presidir os dois Poderes. O presidente do Senado mantém a intenção de votar os projetos sobre o Orçamento na semana que vem, depois das manifestações contra o Congresso, que receberam endosso de Bolsonaro.