Brasil pode ter situação pior que da Itália
Foto: Joel Silva/Folhapress
Nos últimos dias, circulou nas redes sociais uma notícia alarmante sobre o avanço do coronavírus: o índice de casos no Brasil, nos 20 primeiros dias após a primeira confirmação, foi muito superior ao da Itália. Para verificar essa afirmação, o (M)Dados – núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles – fez uma análise não só dos números da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas também ouviu especialista sobre a questão.
O olhar frio sobre os dados confirmam a informação que circula na internet, mas a realidade não está devidamente representada nos números, alerta Alexandre Cunha, médico infectologista do Sírio Libanês, do Hospital Brasília e dos laboratórios Sabin. De 27 de fevereiro (quando a OMS incluiu o primeiro caso brasileiro em seus boletins) até essa terça-feira (17/03), houve crescimento de 28.900% no país, enquanto na Itália, nos primeiros 20 dias após 31 de janeiro (1º caso de coronavírus), houve aumento de apenas 50%.
De acordo com a OMS, a Itália foi de 2 para 3 casos em 20 dias, enquanto o Brasil, de 1 para 290 – conforme noticiado pelo Ministério da Saúde. Para tornar a comparação proporcional à população de cada país, foi feito o cálculo de caso por 100 mil habitantes. A taxa na Itália foi de 0,0050, enquanto por aqui foi de 0,1364.
“Não podemos avaliar como os primeiros dias foram tratados na Itália, mas não podemos comparar um país com o outro”, reforça o médico infectologista. Ele destaca a situação de países como a Índia, uma das maiores populações do mundo, mas que confirmou 114 casos até hoje. “Mesmo estando tão próximo da China. Não faz sentido”, diz.
Outro exemplo é a Coreia do Sul, que adotou métodos eficazes para diminuir o número de transmissão de coronavírus e efetuou testagem em massa nos cidadãos. No país asiático, existem 8.236 casos confirmados.
Ao aumentar o espectro da comparação com outros países, a explicação de Alexandre Cunha mostra-se ainda mais clara. Suíça, Irã e Países Baixos tiveram um crescimento muito superior de Covid-19 em relação aos demais.
Na coletiva desta terça-feira (17/03), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o Sistema Único de Saúde (SUS) teve uma das melhores performances do mundo em termos de identificação de casos e triagem. No entanto, o médico Alexandre Cunha destaca que o Brasil não dispõe de recursos suficientes para testar todas as pessoas suspeitas.
“Há uma decisão consciente para testarmos apenas as situações mais graves, caso contrário os estoques vão acabar em uma semana. Temos 290 casos confirmados, mas podem ser muito mais, não há como ter certeza”, pontua o especialista.