Manifestantes retomam protestos no Chile

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Foto: JUAN GONZALEZ / REUTERS

Após uma breve pausa durante as férias de verão, manifestantes voltaram às ruas de Santiago na noite de segunda-feira, com novos episódios de violentos confrontos com a polícia, ataques a transportes públicos e saques a lojas que se estenderam até o amanhecer desta terça-feira. O saldo da chamada “Supersegunda” foi de 283 detidos e 76 policiais feridos, com parte do transporte público fechado temporariamente na capital. As manifestações contra o modelo social e econômico chileno irromperam em outubro e sacudiram o país até meados de dezembro, levando a uma crise social sem precedentes — a maior desde a redemocratização em 1990.

Convocados para protestar contra o governo de Sebastián Piñera na primeira segunda-feira de março, quando a maioria das atividades produtivas do país começa após as férias, milhares de manifestantes se reuniram à tarde na Praça Itália, no centro de Santiago. Alguns manifestantes forçaram a interdição de várias estações do metrô e linhas de ônibus, e atearam fogo em barricadas em ruas da capital. As cidades chilenas de Antofagasta, Temuco e Concepción também tiveram episódios de violência.

O sistema de transporte público da capital chilena foi suspenso por segurança e posto novamente em operação durante a madrugada. Quinze estações ferroviárias que serve a região metropolitana também ficaram fechadas, e foram reabertas na manhã desta terça-feira, quando as principais estradas do entorno de Santiago ainda mostravam resquícios dos distúrbios, com semáforos no chão e restos de barricadas.

Um manifestante foi atropelado por um carro da polícia, que justificou o atropelamento “devido ao grande número de objetos contundentes e coquetéis molotov que foram atirados no para-brisa”. O ministro do Interior, Gonzalo Blumel, informou que a polícia deteve 283 pessoas durante os confrontos. Várias delegacias foram atacadas, segundo ele.

— Durante a noite, o que vimos foi crime, pura e simplesmente — disse Blumel, nesta terça-feira. — A cidade funcionou, as pessoas puderam realizar suas atividades, mas à tarde e à noite houve violência pura e dura. São atos de violência que nada têm a ver com demandas sociais.

Os protestos que eclodiram em 18 de outubro contra o aumento das tarifas do metrô de Santiago rapidamente se transformaram em uma reivindicação generalizada de reformas sociais, em um país em que a educação, a saúde e a previdência social são em grande parte privadas. Desde então, ao menos 31 pessoas morreram, milhares ficaram feridas e dezenas de milhares foram presas, de acordo com estatísticas do governo. O presidente Sebastián Piñera decretou estado de emergência logo depois dos primeiros protestos, levando os militares às ruas pela primeira vez desde o fim do governo do ditador Augusto Pinochet (1973-1990).

A violência de parte dos manifestantes tem sido capitalizada pela direita na campanha para o plebiscito convocado para o dia 26 de abril, que irá decidir se deverá ou não haver um processo para elaborar uma nova Constituição que substitua a herdada da ditadura de Pinochet. A campanha para o plebiscito começou na semana passada, e parte dos partidos da coalizão de centro-direita de Piñera defendem o voto contra a substituição da Carta.

Depois de algumas semanas de tensão máxima, a violência nas ruas diminuiu em janeiro e fevereiro — quando a maioria dos chilenos tira férias. Agora, um grande calendário de manifestações circula pelas redes sociais, com atividades em quase todos os dias de março. Estão previstas uma grande marcha para o próximo domingo, Dia Internacional da Mulher, e uma greve feminista na segunda-feira seguinte, juntamente com convocações de grupos indígenas, ambientalistas, sindicais e estudantis.

Todos procuram pressionar Piñera a expandir a agenda de reforma social proposta por seu governo para enfrentar a crise social que abalou um país considerado até recentemente um dos mais estáveis da América Latina.

O Globo