Negacionismo do coronavírus na internet contaminou Bolsonaro

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Foto: Reprodução

Há um claro desarranjo entre o tom de seriedade usado pelo Ministério da Saúde para impedir o avanço da pandemia de coronavírus no Brasil e a conduta do presidente Jair Bolsonaro, que usou palavras como “histeria” e “neurose” para tratar da crise e interagiu com centenas de pessoas no último domingo (15/03), em Brasília. O comportamento de Bolsonaro reflete um negacionismo em relação à gravidade da situação que encontra terreno fértil nas redes sociais e aplicativos de troca de mensagens, ambientes que influenciam o presidente da República.

Em grupos de apoio a Bolsonaro no WhatssApp, teorias da conspiração apontam a China, país onde o coronavírus começou a infectar seres humanos, como interessada economicamente na “globalização” da doença como forma de criar crises econômicas.

O argumento se repete em outros ambientes virtuais, como um grupo de militantes antivacinação no Telegram. O Metrópoles já mostrou que esse grupo, onde circulam notícias falsas que impactam na cobertura vacinal do país inteiro, está facilmente acessível na busca do aplicativo.

Apesar de não se suportarem, dois seguidores célebres de Bolsonaro estão unidos em algum grau de negacionismo em relação ao coronavírus. Guru da ala mais radical do bolsonarismo, o escritor Olavo de Carvalho tem usado suas redes sociais, que alcançam milhões de pessoas, para espalhar desinformação sobre a pandemia.

Só nesta segunda-feira (16/03), o professor on-line de filosofia fez pelo menos quatro postagens criticando a preocupação global com a doença. Em um vídeo, o coronavírus é classificado como uma “experiência social e psicológica”. Outro (reproduzido na imagem em destaque) questiona a informação de que a Covid-19 possa causar mortes (segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 6,6 mil pessoas já haviam morrido até o início desta semana decorrência da doença no mundo).

Já o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, reconhece que “a doença é real”, mas desafia pedidos e decretos que promovem o isolamento social e garante que não pretende fechar igrejas ou restringir seu público. “Tem que tomar muito cuidado para não entrar numa neura louca”, disse ele em vídeo publicado no YouTube e divulgado nas redes sociais.

O serviço de vídeos do Google, aliás, hospeda dezenas de vídeos com teorias de conspiração acerca do coronavírus – assim como já ocorre com as fake news sobre vacinação.

Já o Twitter está fazendo um trabalho proativo de combate às fake news e direciona para os perfis do Ministério da Saúde quando são feitas pesquisas questionando a existência ou a gravidade do coronavírus.

O presidente da República ainda não deu nenhuma declaração firme sobre a gravidade da pandemia e tem companhia no governo de outras pessoas que seguem a linha de pensamento de que o novo coronavírus “não é um bicho de sete cabeças”. Essa frase foi usada pelo secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, ao avaliar o próprio quadro após ter sido infectado pelo novo coronavírus em viagem aos Estados Unidos.

E um dos responsáveis pelo esforço do governo federal no combate à pandemia, o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, que é médico, não se importou em acompanhar o presidente no criticado encontro dele com centenas de apoiadores durante manifestação no último domingo (15/03).

Apesar de ser uma tendência em uma ala do bolsonarismo, o negacionismo em relação ao coronavírus também gera críticas entre os seguidores do presidente da República. As postagens nos grupos têm algum grau de respostas críticas e as redes do presidente também registraram críticas vindas de bolsonaristas, que pediram mais cuidado ao presidente.

Um dos principais influenciadores digitais do bolsonarismo e acusado de ser miliciano virtual por ex-aliados, o perfil do internauta Leandro Ruschel, com mais de 300 mil seguidores apenas no Twitter, tem feito um esforço para mostrar com dados que a pandemia não é “só uma gripe”. Houve espaço até para uma crítica de Ruschel ao comportamento de Bolsonaro.

 

Metrópoles