Adeptos de golpe militar acusam Maia de “golpe”
Imagem: Reprodução/YouTube
Depois de participar de um ato que pedia o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, o presidente Jair Bolsonaro usou a internet para continuar os ataques ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na noite deste domingo, 19. Ele fez uma transmissão ao vivo, em que aparece assistindo a uma entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) para blogueiros de direita. Na entrevista, Jefferson, que delatou o esquema do Mensalão e foi condenado a sete anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, diz que Maia fez um acordo com a esquerda para aprovar o impeachment do presidente.
Desde que a crise do coronavírus estourou, ao menos três pedidos de impeachment contra Bolsonaro foram apresentados na Câmara dos Deputados. Como presidente da Casa, cabe a Maia aceitar ou negar os procedimentos. Por enquanto, ele não deu nenhum sinal de que pretende levar os processos adiante. Em 17 de março, o parlamentar disse, em entrevista ao Valor, que o Congresso não deveria com um procedimento que pode aumentar a crise, como um processo de impeachment.
Na quinta-feira, 16, o presidente atacou Maia, ao dizer em entrevista à CNN que acha que a intenção do parlamentar é tirá-lo da Presidência. Em reação às críticas, Maia disse que não entraria numa disputa pública com Bolsonaro: “O presidente não vai ter ataques (de minha parte). Ele joga pedras e o Parlamento vai jogar flores”, completou.
Segundo Jefferson, que hoje preside o PTB, o “golpe” de Maia tem duas partes. A primeira é realizar o impeachment, que ocorreria após perda de governabilidade do presidente. A segunda parte seria mudar a legislação para permitir que Maia se reeleja como presidente da Câmara. O mandato de Maia termina em 31 de janeiro de 2021, e ele não pode mais se reeleger. “Ele troca, com a esquerda, o impeachment pela reeleição. Ele dá à esquerda a admissibilidade do pedido de impeachment e depois eles votam a reeleição de Maia como presidente da Câmara”, disse Jefferson, na entrevista compartilhada por Bolsonaro.
Segundo Jefferson, Bolsonaro se negou a fazer um governo de “toma lá, dá cá” e por isso haveria uma “crise de abstinência” pela corrupção. O ex-parlamentar tem caído nas graças de aliados de Bolsonaro. Uma publicação de Jeffferson foi compartilhada por um dos filhos de presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), neste domingo.
Na entrevista, feita pelo grupo bolsonarista República de Curitiba, Jefferson também fala sobre a entrevista concedida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao Estado publicada nesse domingo, na qual o tucano afirma que o Brasil vive hoje um parlamentarismo branco e que há um governo compartilhado entre STF e Congresso. O grupo República de Curitiba era um dos que estavam por trás da convocação para ato de 15 de março que também pediu o fechamento do Supremo e do Congresso, como fizeram as manifestações deste domingo.
Jefferson ficou conhecido nacionalmente após delatar o esquema de compra de votos no Congresso Nacional no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, batizado pelo próprio Jefferson de “mensalão”.
Em 2012, Jefferson foi condenado a 7 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A pena dele foi perdoada em março deste ano pelo Supremo com base no decreto presidencial do indulto natalino.
Ainda na noite deste domingo, Bolsonaro compartilhou trecho de uma entrevista de Maia à CNN, em que o parlamentar responde aos ataques sofridos no dia 16, seguida do clip de um funk que diz: “Ele é mentiroso”.