AGU levanta suspeitas ao esconder laudos sobre Bolsonaro
Foto: Sergio Lima/AFP
A Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou nesta quinta-feira um relatório médico informando que o presidente Jair Bolsonaro não apresenta sintomas da Covid-19 e que os dois exames que ele realizou deram negativos. A nota enviada pela AGU que informa a entrega do documento não indica, no entanto, se o relatório tem ou não cópias dos laudos dos exames do presidente.
O relatório enviado pela AGU é uma resposta a uma decisão da Justiça Federal de São Paulo que, na segunda-feira, deu 48 horas para que Bolsonaro divulgasse os laudos dos exames realizados por ele em março deste ano. A decisão foi dada em uma ação movida pelo jornal O Estado de S. Paulo.
“A AGU apresenta, na manifestação, relatório médico emitido em 18 de março de 2020 pela Coordenação de Saúde da Presidência da República, no qual é atestado que o presidente da República é monitorado pela respectiva equipe médica, encontrando-se assintomático, tendo, inclusive, realizado exame para detecção da Covid-19, nos dias 12 e 17 de março, com o referido exame dando não reagente (negativo). Tendo em vista a juntada do relatório aos autos do processo, a AGU requer a extinção do processo”, diz um trecho da nota.
A reportagem do GLOBO perguntou à assessoria da AGU se o relatório entregue à Justiça Federal de São Paulo continha cópias dos laudos dos exames de Bolsonaro, mas a assessoria disse que as informações disponíveis sobre o assunto são as que foram divulgadas pela nota.
O sistema eletrônico da Justiça Federal de São Paulo indica o envio de uma petição protocolada no processo referente aos exames de Bolsonaro, mas o documento enviado pela AGU ainda não foi disponibilizado.
A polêmica em torno dos exames realizados por Bolsonaro começou logo após ele voltar de uma viagem aos Estados Unidos, durante a qual mais de 20 integrantes da sua equipe foram diagnosticados com a Covid-19. Entre os infectados estavam o chefe do Gabinente de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o secretário especial de Comunicação, Fábio Wajngarten.
Segundo a Presidência, Bolsonaro foi submetido a dois exames, ambos em março. O presidente alega que os dois resultados deram negativos, mas, apesar das cobranças, se recusa a mostrar os resultados publicamente.
Desde o início da epidemia de Covid-19 no Brasil, Bolsonaro tem minimizado os efeitos da doença e criticado governos estaduais que implementaram medidas como o distanciamento social ampliado. Bolsonaro foi criticado por autoridades e especialistas por desrespeitar as medidas de prevenção contra o novo coronavírus quando, por exemplo, causou aglomerações em farmácias e padarias, além de cumprimentar apoiadores com as mãos.
Eventos oficiais do governo também foram criticados pelas aglomerações e pelo contato físico entre os participantem, que não usavam máscaras de proteção em sua maioria. A colunista do jornal O Globo Bela Megale publicou que, apesar do aumento do número de casos de coronavírus, o Palácio do Planalto retomou os eventos no salão que compota maior número de pessoas.
O colunista da revista Época, Guilherme Amado, publicou informações sobre o café da manhã oferecido a mais de 30 deputados no Palácio da Alvorada. Os convidados não usavam máscara, aém de desrespeitarem o distanciamento e realizarem contato físico e o compartilhamento de objetos, como celulares para as selfies. As atitudes violam as medidas de prevenção recomendadas por autoridades de saúde.
Na segunda-feira, a juíza federal Ana Lucia Petri Betto, da 14ª Vara Cívil Federal de São Paulo, atendeu a um pedido feito pelo jornal O Estado de S. Paulo para que Bolsonaro apresentasse os exames. Na decisão, a juíza deu 48 horas para que os documentos fossem entregues.
Em sua decisão, a juíza disse que “agentes políticos devem esclarecer aos mandantes (o povo) as questões de relevante interesse nacional”.
O prazo venceu nesta quinta-feira, porque a AGU só foi notificada da decisão na terça-feira.
Questionado sobre o assunto nesta quinta-feira, Bolsonaro disse que irá se sentir “violentado” se tiver que apresentar os exames.
– A AGU (Advocacia-Geral da União) deve ter recorrido. E se nós perdermos o recurso daí vai ser apresentado. E vou me sentir violentado. A lei vale para o presidente e mais humilde cidadão brasileiro – afirmou o presidente.