Ameaça bolsonarista de golpe racha centrão
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
A tentativa do Palácio do Planalto de se reaproximar do Congresso rachou o Centrão, o grupo político que na prática controla o Legislativo. A divisão ficou explicitada nas reações dos partidos às falas do presidente Jair Bolsonaro neste domingo (19).
Enquanto os partidos que negociam participação em cargos no governo tiveram uma reação tímida ou até mesmo inexistente, as demais legendas fizeram notas mais duras.
A aproximação vendo sendo liderada por Progressistas (antigo PP), PL, Republicanos (antigo PRB) e PSD. Outros partidos menores também estão incluídos na negociação. Um deles é o PTB de Roberto Jefferson, que gravou um vídeo com críticas ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, semelhantes às que Bolsonaro fez a Maia na quinta-feira à noite em entrevista à CNN.
Esses partidos adotaram o silêncio em relação ao episódio deste domingo. Nas últimas duas semanas, seus dirigentes estiveram com o presidente Jair Bolsonaro em uma movimento revelado pela CNN.
Bem diferente de outra ala do Centrão, mais cética em relação aos rumos do bolsonarismo. Tendo o DEM de Rodrigo Maia como eixo central, esse segmento é composto também por siglas como MDB e PSDB. Esse grupo liderou ontem as críticas aos gestos de Bolsonaro ao público de manifestantes que defendia, entre outros pontos, o fechamento do Congresso, do STF e a intervenção militar.
São legendas que embora nunca fossem consideradas como um Centrão in natura, também adotaram em governos anteriores a prática de trocar apoio parlamentar por cargos no governo.O auge desse movimento foi no governo Michel Temer, quando todos estavam juntos no Congresso e na Esplanada dos Ministérios. Na era petista, DEM e PSDB eram oposição e não se sentaram formalmente à mesa para negociar com Lula e Dilma Rousseff.
Na era Bolsonaro, o grupo se uniu a partir do momento em que ficou claro que Bolsonaro não lhes daria preferência na montagem de seu ministério. Depois, no início do governo, as críticas do presidente à “velha política” tencionou a relação, mas depois ela ficou de certo modo acomodada. Em especial porque o Congresso conseguiu ampliar, sem maiores questionamentos do Planalto, seu naco sobre os recursos federais com o Orçamento impositivo.
A chegada do coronavírus colocou o país, e Bolsonaro, em uma grave crise de saúde pública e econômica. O presidente se viu isolado em suas posições sobre o combate ao COVID-19 e decidiu buscar parte do Congresso para tentar compor uma base aliada.
A ideia é ter algo em torno de 250 deputados na Câmara. Somando-se o eixo central formado por PL, Progressistas, PSD e Republicanos, a conta fica em 147 deputados. Partidos pequenos, como o PTB, Avante, Pros e PV, também vêm sendo incluídos nas negociações. Juntos, são mais 33 parlamentares. Chega-se a 200 com os dissidentes do PSL, o grupo hoje formado pelos que integrarão o Aliança e que dão apoio orgânico a Bolsonaro, independentemente de cargos.
Para fechar a conta, é preciso, porém, que o governo concretize o que foi pedido pelos partidos. Isso, segundo fontes disseram à CNN neste domingo, após a polêmica participação de Bolsonaro nas manifestações, conta muito mais para o apoio ao presidente do que suas declarações ou acenos a movimentos autoritários.
Prova disso é que no dia seguinte aos ataques de Bolsonaro a Maia, parte do grupo esteve no Palácio do Planalto e não esboçou qualquer apoio público ao presidente da Câmara. Se bem sucedido, a cereja do bolo desse movimento é algum integrante do grupo assumir a presidência da Câmara no lugar de Maia em fevereiro de 2021, com Arthur Lira, líder do Progressistas, ou Marcos Pereira, presidente do Republicanos.
É nesse contexto que o desembarque do DEM do Ministério da Saúde tem grande potencial de abertura de espaços em Brasília e nos estados. O PSD de Gilberto Kassab, por exemplo, já pediu o controle da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). A resposta a ele e a outras demandas ainda não foi dada e os sinais dos militares de que pretendem que a Saúde seja tutelada por eles foi vista com ceticismo.
Principalmente o interesse deles de colocarem o general Eduardo Pazuelo, amigo do ministro da Casa Civil, general Braga Neto, na secretaria-executiva da pasta. Se a aproximação com essa ala do Congresso não der certo, aí sim a vida de Bolsonaro pode se complicar de vez com o Centrão unido contra o presidente.