Aras faz inquérito para fingir que trabalha
Foto: Adriano Machado/Reuters
A Procuradoria-Geral da República justifica a não inclusão do presidente no inquérito que investiga os atos antidemocráticos de domingo com a explicação de que ele apenas “participou”. Ora, Jair Bolsonaro não é um cidadão comum, nem estava lá desavisado. Na verdade, mais parece que Augusto Aras, o PGR, quer fazer crer que agiu sem ter agido. O famoso para “inglês ver” do Brasil.
As fontes com quem eu conversei no MP acham que há erros técnicos na proposta de abertura de inquérito, porque nada deveria estar em sigilo, dado que os fatos foram públicos, a manifestação era explicitamente antidemocrática, e tudo foi filmado e até transmitido. Explicam ainda que uma investigação se faz sobre fatos determinados e pessoa determinada. Foi informado que ele investigaria cidadãos e deputados. “Não pode ser assim, genérico”, disse um procurador.
As fontes lembram que foi a presença do presidente que deu dimensão à manifestação, que atacava o Congresso e o STF, e pedia um novo AI-5. Eliminá-lo previamente no pedido de inquérito não faz sentido técnico.
O procurador-geral tem se notabilizado por ser um ajudante do governo, em vez de fazer o papel que a Constituição determina. Diante da afronta grave demais à Constituição, ele precisava agir. Aras preferiu fazer de conta que não viu o principal no evento de domingo, que foi a participação do presidente. Ao menos se ao final do inquérito ele chegar a alguma conclusão sobre quem financiou e organizou estará ajudando. Melhor isso do que atrapalhar, que é o que ele mais tem feito.