Bolsonaristas se dividem sobre Mandetta após chefe criticá-lo

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Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Os usuários com perfil de direita no Twitter vinham firmes em defesa do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Até que o presidente Jair Bolsonaro cobrou, publicamente, humildade do subordinado na crise contra o coronavírus, em entrevista nesta quinta (2). Agora, Mandetta passou a ser atacado por esse campo ideológico.

Alguns tuítes já ligam o titular da Saúde e seu partido, o DEM, a um suposto golpe em curso, para tirar o presidente do poder. Outros dizem que tudo bem haver divergência no governo.

A Folha analisou os tuítes mais populares na direita em dois momentos na rede social. O primeiro período foi do dia 24 de março (quando São Paulo iniciou o isolamento da população) ao começo da noite de quinta; o segundo momento considerou as 12 horas após a entrevista de Bolsonaro criticando o ministro.

São dois cenários opostos. Antes do ataque público de Bolsonaro, os tuítes mais populares falavam que o ministro era sério. Também havia tuítes dizendo que era a imprensa que estava criando uma divisão no governo.

O terceiro tuíte mais popular desse período, por exemplo, foi “e o Governo Jair Bolsonaro é o primeiro do mundo a anunciar oficialmente o tratamento para covid-19. Mandetta ainda confirmou a desinformação da imprensa: ele nunca pediu quarentena. Dia ruim para as hienas”.

A mensagem, de Felipe Pedri (assessor da Casa Civil), citava a discordância de avaliação de como conduzir a crise, o que afastou Bolsonaro de Mandetta.

O ministro tem defendido o isolamento de toda a população, para evitar que o covid-19 se espalhe rapidamente. Já Bolsonaro tem ressaltado o prejuízo econômico que as pessoas estão sofrendo com comércio, empresas e escolas fechadas. E defende o isolamento apenas das populações mais vulneráveis.

Publicamente, até então, Bolsonaro e Mandetta trocavam elogios, ainda que nos bastidores já se sabia que a relação entre os dois estava ruim. Na quinta, o presidente escancarou as divergências em entrevista à rádio Jovem Pan.

Os tuítes mais populares na direita, então, mudaram de tom. O terceiro mais popular após a crítica de Bolsonaro foi do agrônomo Xico Graziano, que diz estar tudo bem com a divergência, desde que haja lealdade.

 

Outros partiram para o ataque. O quarto e quinto tuítes mais populares afirmam estar em curso um golpe para tirar Bolsonaro do poder, capitaneado pelo DEM, partido de Mandetta.

 

O tuíte mais popular na direita falava da expectativa da chegada de cinco milhões de testes para identificar pessoas infectadas, e o segundo, atacava o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).

A classificação dos usuários entre centro, direita e esquerda é feita pelo GPS Ideológico, ferramenta da Folha que categorizou 1,7 milhão de perfis no Twitter, com interesse em política. Os usuários são distribuídos numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda, de acordo com quem eles seguem na rede social.

Antes do dia 24 de março, quando São Paulo começou o isolamento da população, Mandetta era o terceiro perfil com que o presidente Jair Bolsonaro mais interagia no Twitter.

Nos nove dias anteriores ao início da quarentena, Bolsonaro havia retuitado ou respondido seis mensagens do ministro.

Já entre o dia 24 e o fim da tarde do último dia 2, Bolsonaro não mencionou ou respondeu publicamente nenhuma mensagem de Mandetta no Twitter.

Com o distanciamento entre Mandetta e Bolsonaro, sobrou também para o perfil do Ministério da Saúde. A pasta era a que mais recebia interação do presidente antes do dia 24 (nove menções).

Depois, com cinco menções, caiu para a quinta conta que o presidente mais interagiu. Estava atrás do Ministério da Defesa (8), da Educação (6), do chanceler Ernesto Araújo (6) e da Secretaria de Comunicação (6).

Neste período que Mandetta não recebeu nenhuma interação do presidente, Bolsonaro interagiu com 41 perfis, incluindo contas de fora do governo, como do apresentador Milton Neves, que foi retuitado pelo presidente.

 

Mandetta havia tuitado 91 vezes nos nove dias anteriores a 24 de março e 68 vezes depois.

Folha