Bolsonaro escolheu amigo de Toffoli para Justiça
Foto: MATEUS BONOMI/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO
Normalmente adepto do jogo bruto, Jair Bolsonaro resolveu tentar um drible ao nomear André Mendonça para o Ministério da Justiça. Antes de decidir, o presidente consultou informalmente ministros do Supremo Tribunal Federal sobre as consequências de escolher Jorge Oliveira para o cargo. Foi desaconselhado. O nome de Mendonça, muito estimado por pelo presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, surgiu ali. É o resultado de uma rara tabelinha entre governo e STF.
Não há como comparar a experiência profissional do novo ministro, que está há 20 anos na Advocacia-Geral da União, com os meros sete anos que Oliveira, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, tem como advogado. Mas não foi essa diferença de currículo que pesou na decisão.
Bolsonaro acabou sendo convencido de que nomear para o Ministério da Justiça alguém íntimo no momento em que a Policia Federal investiga seus filhos poderia resultar em questionamento judicial com alto potencial para encrenca. Já seria suficientemente suspeito ter como novo diretor-geral da PF o amigo da família, Alexandre Ramagem.
Com Oliveira descartado, Mendonça era o nome seguinte na lista de Bolsonaro e agradou em cheio ao presidente do STF. Quando era titular da Advocacia-Geral da União, no governo Lula, Toffoli indicou Mendonça para cargos importantes, como corregedor-geral, por exemplo. Os dois mantêm excelente relacionamento. Tanto que o novo ministro da Justiça é autor do livro que homenageia os 10 anos de Toffoli na Suprema Corte.
Mendonça tem outro ponto em comum com Toffoli: apoia o inquérito aberto no STF que investiga as ofensas e fake news disparadas nas redes sociais contra membros da Corte e do Congresso. É nessa apuração, a cargo da PF, que os filhos de Bolsonaro e pessoas próximas a eles figuram como suspeitos. Segundo deu a entender Sergio Moro, em seu explosivo pronunciamento de despedida, foi esse inquérito que levou Bolsonaro a pressionar o ex-ministro para obter informações no STF.
Apesar disso, Mendonça é tido como absolutamente confiável pelo presidente da República. Sempre é citado por ele como possível indicado para uma vaga no Supremo — seria o ministro “terrivelmente evangélico”.
Em momento de extrema gravidade, quando o ministro Celso de Mello autoriza a investigação de Bolsonaro e Moro, o presidente consegue construir uma ponte com o STF com a nomeação de Mendonça. De quebra, dá à pasta da Justiça e Segurança Pública o toque de imparcialidade que ela perderia se o escolhido fosse Jorge Oliveira.
O jogo ainda está difícil, mas, ao passar momentaneamente para a retranca, Bolsonaro pretende segurar o ímpeto ofensivo do time adversário.