Bolsonaro fez país perder tempo com ataque a Mandetta

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Foto: Andre Coelho/Getty Images

O médico Luiz Henrique Mandetta dorme tarde e acorda cedo. Trabalha de segunda a sábado. Faz dezenas de reuniões diárias, analisa gráficos e ainda anima sua equipe e o país com coletivas diárias onde avisa que o caminho será duro, mas o país atravessará a pandemia de coronavírus.

É o que um ministro da Saúde deve fazer na linha de frente de uma guerra global contra um vírus que já matou mais de 70.000 pessoas no planeta, sendo 553 apenas no Brasil. Nesta terça, outras dezenas de brasileiros perderão a vida por causa o coronavírus.

O país, carente de respiradores, de produtos de segurança para profissionais de saúde e de leitos de UTI para todos que precisarão do SUS, não poderia se permitir perder uma hora sequer no planejamento de sua retaguarda.

O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, acha que está tudo certo. Além de ir para casa todo dia 18h, como se o país e o mundo estivessem em plena normalidade, dedica-se como poucos a atrapalhar o trabalho do governo no combate ao coronavírus.

Depois de fazer pouco caso das mortes, de dizer que o brasileiro mergulha no esgoto e não pega nada, de chamar o vírus que modificou a vida de famílias brasileiras de gripezinha, de resfriadinho, depois de estimular protestos e aglomerações, depois de participar desses protestos, depois de romper a quarentena para um passeio sem sentido pelas ruas do Distrito Federal, depois de postar um vídeo fake sobre desabastecimento, depois… São tantos os exemplos de como o presidente atrapalha o país na guerra ao vírus, que nada poderia piorar, certo?

Pois piorou. Bolsonaro espalhou o caos no Ministério da Saúde nesta segunda ao ameaçar demitir Mandetta e depois recuar. Como o Radar mostrou, as equipes da Saúde, então mobilizadas em comprar produtos da China, identificar as redes de leitos disponíveis no país para receber doentes, pararam o serviço para limpar as gavetas diante da ameaça de demissão. Com ciúmes da atuação de Mandetta na live da dupla sertaneja Jorge & Mateus no fim de semana, Bolsonaro disse no domingo que iria cortar cabeças do auxiliar que estava se achando, mas não anunciou a data.

A impressão que ficou é de que o ministro teria o direito de continuar trabalhando durante a guerra ao coronavírus. Tudo mudou a partir do momento em que Bolsonaro autorizou sua tropa a vasculhar o passado do ministro para encontrar podres que justificassem sua demissão.

Foi um dia inteiro de guerra perdido com problemas no quartel. Justamente no momento em que o país começa a caminhar para o olho do furacão da pandemia. Mandetta manteve-se de pé no dia de ontem. Resta saber como será a agonia desta terça, como estará o humor de Bolsonaro e seus paranoias.

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