Bolsonaro já admite desistir de Ramagem
Foto: Jorge William
O presidente Jair Bolsonaro reafirmou nesta quinta-feira que irá recorrer da decisão que impediu a posse de Alexandre Ramagem no comando da Polícia Federal (PF), mas ao mesmo tempo admitiu que está buscando um novo nome para órgão. Bolsonaro atacou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pela decisão, e disse que o Brasil quase viveu uma “crise institucional”. O presidente também afirmou que sua amizade com Ramagem não é motivo para impedir a nomeação.
— Estamos discutindo um novo nome, uma nova composição, para a gente fazer com que a Polícia Federal realmente agora tenha isenção e ajude o Brasil com o trabalho que ela sempre fez desde a sua existência — disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada, sem deixar claro se o novo nome seria interino ou permanente.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro reforçou que a Advocacia-Geral da União (AGU) irá recorrer da decisão de Moraes. O presidente disse ter conversado sobre isso com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge de Oliveira, mas não deixou claro se tratou do assunto com o novo AGU, José Levi Mello, que na quarta-feira disse que o órgão não iria recorrer.
— Vai recorrer. Conversei contem com o Jorge, também com outros ministros, e vai recorrer. Eu lamento agora que não tem tempo. Demora semanas, meses. Espero que (a nova decisão) seja tão rápida quanto a liminar. Eu espero no mínimo isso do senhor Alexandre de Moraes. No mínimo, espero do senhor Alexandre de Moraes rapidez, para a gente poder tomar as providências.
Bolsonaro afirmou ainda que não “engoliu” a decisão de Moraes, classificada por ele como “canetada”:
— Tirar em uma canetada, desautorizar um presidente da República com uma canetada, dizendo em impessoalidade. Ontem quase tivemos uma crise institucional. Quase, faltou pouco. Eu apelo a todos que respeitem a Constituição — disse, acrescentando depois: — Eu não engoli ainda essa decisão do senhor Alexandre de Moraes. Não engoli. Não é essa forma de tratar o chefe do Executivo, que não tem uma acusação de corrupção, que faz tudo possível pelo seu país.
O presidente disse que sua amizade com Ramagem — que chefiou sua equipe de segurança — não pode ser utilizada para impedir a posse.
— A amizade não está prevista como uma daquelas cláusulas impeditivas para alguém tomar posse — declarou. — É uma pessoa competente segundo a própria Polícia Federal. E daí a relação de amizade? A minha segurança pessoal só não dormia comigo.
Bolsonaro também criticou o ministro, dizendo que ele só foi indicado para o STF por ter “amizade” com o ex-presidente Michel Temer, de quem foi ministro da Justiça.
— Não justifica a questão da impessoalidade. Como é que o senhor Alexandre de Moraes foi para o Supremo? Amizade com o senhor Michel Temer. Ou não foi?
Bolsonaro disse que editou na quarta-feira um decreto anulando a nomeação apenas para se adequar à liminar do STF, mas disse estar “chateado” e classificou a decisão como “política”. O presidente também questionou se Ramagem pode continuar na direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
— Nós publicamos no DO a não indicação do Ramagem, cumprindo decisão liminar. Chateado, porque, afinal de constas, está na Abin. Se não pode estar na PF, não pode na Abin também. No meu entender, uma decisão política, política.
Crise institucional
Ao fim da entrevista, Bolsonaro foi instado a explicar a “crise institucional” a que se referiu e disse que não entraria em detalhes. Ele voltou a criticar a decisão do ministro Alexandre de Moraes e falou em uma possível brecha para nomear novamente Ramagem ao comando da PF.
— No meu entender, falta um complemento, para mostrar que não é uma coisa voltada pessoalmente para o senhor Jair Bolsonaro. Falta ele decidir se o Ramagem pode ou não continuar na Abin. É isso que eu espero dele. Ele tem que se posicionar no tocante a isso. Se ele não se posicionar, ele está abrindo a guarda para eu nomear o Ramagem independente da liminar dele. É isso que nós não queremos. Nós queremos é o respeito de dupla mão, de dupla via, entre os Poderes – declarou.
Na sequência, o presidente voltou à carga e cobrou uma decisão imediata do ministro do Supremo:
— Então o senhor Alexandre de Moraes tem que decidir imediatamente se o senhor Ramagem pode ou não continuar à frente da Abin. E ponto final. É isso que ele tem que decidir, tá ok?