Bolsonaro pede milagre a Mandetta neste momento
Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS
Após desistir de trocar o comando do ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro tenta cobrar que o ministro Luiz Henrique Mandetta apresente um plano de ações contra o avanço do novo coronavírus que vá além das medidas de restrição à circulação de pessoas. Espera-se, por exemplo, que Mandetta faça recomendações para tratamento de infectados. A discussão sobre o uso da hidroxicloroquina, cuja efetividade não foi clinicamente comprovada, é uma das divergências entre Bolsonaro e o ministro.
A aliados, o presidente tem reclamado que o auxiliar estaria privilegiando governadores que lhe fazem oposição. Um vídeo de uma entrevista em que médico David Uip, que chefia o Centro de Contingência contra a Covid-19 do governo de São Paulo, alega ter se reunido com Mandetta para tratar do uso de hidroxicloroquina irritou o presidente. Na gravação, Uip diz que o ministro se comprometeu a destinar “um número de comprimidos suficientes para uso de qualquer paulista que tenha indicação, seja no sistema público ou no privado”. Dentro do governo federal, há dúvidas se haverá medicamento suficiente para todos e foi criticada a promessa de envio para São Paulo, estado governado por João Doria, desafeto de Bolsonaro.
No dia seguinte a tensa reunião que quase resultou em sua demissão do governo, Mandetta concedeu entrevista mais concentrada nos números e providências da expansão do contágio de coronavírus no país. E também criticou a divulgação de notícias falsas envolvendo seu nomes nas redes sociais. O volume de fake news envolvendo o ministro aumentou nos últimos dias, e parte circulou em grupos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.
— As fake news este fim de semana, elas vinham com um índice e fizeram igual aqueles gráficos da epidemia, ela fez assim (gesticulando para cima). Foi o que mais subiu, bem mais que o número de casos — afirmou Mandetta na coletiva de ontem. — Não sou de mídia social. O que eu tiver de falar, não acreditem em nada que não seja falado aqui.
O juiz federal Itagiba Catta Preta Neto, da 4ª Vara Federal do DF, determinou o bloqueio do repasse de valores da União ao fundão eleitoral e ao fundo partidário, e autorizou que o governo utilize essa verba para as ações de combate ao coronavírus. O fundão eleitoral foi criado para cobrir gastos de R$ 2 bilhões com as eleições municipais. Já o fundo partidário é uma verba repassada pela União para o funcionamento dos partidos políticos, estimado em R$ 1 bilhão neste ano. Cabe recurso contra a decisão.