Bolsonaro quer “isolar” o DEM
Foto: REUTERS/Adriano Machado
Isolado politicamente, o presidente Jair Bolsonaro deixou o DEM de fora do seu esforço para criar pontes com os partidos do Centrão. A iniciativa, segundo o Valor apurou, foi pensada para esvaziar os poderes da legenda comandada pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, que detém as presidências da Câmara, com Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP).
O chefe do Poder Executivo acredita que a sigla está fazendo “palanque eleitoral” com a pandemia e, por isso, deve conseguir uma forma de reduzir o poder que ela tem em relação à pauta de votação do Legislativo.
A sucessão das presidências das duas Casas do Congresso também está no cálculo de Bolsonaro e seus aliados.
Segundo parlamentares bolsonaristas, os acenos do presidente da República em direção aos partidos do Centrão não tinham Maia como único alvo. Em conversas reservadas, Bolsonaro afirmou a interlocutores que considerava alguns movimentos do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta como manobras para fortalecer o próprio nome no cenário político e também a imagem do DEM.
Diante desse diagnóstico, Bolsonaro teria resolvido despejar críticas ao presidente da Câmara horas após demitir Mandetta do comando do Ministério da Saúde. A ideia era justamente emplacar a narrativa de que Maia, alinhado com a própria legenda, estaria trabalhando para atrapalhar o governo por meio da aprovação de medidas que desequilibrarão as contas públicas. Esse seria o único caminho, em sua visão, que o partido teria para enfraquecer o seu nome na corrida presidencial de 2022 e ganhar competitividade, caso decidisse ter uma candidatura própria.
A aliados o presidente já afirmou que o DEM está sendo “oportunista” e usando a pandemia para fazer “palanque eleitoral”. Os recentes desgastes com Mandetta e com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que o apoiava até o início da crise do coronavírus, teriam alimentado ainda mais a resistência de Bolsonaro ao partido.
O presidente até ensaiou uma reconciliação com Caiado na semana passada, quando ambos visitaram as obras do primeiro hospital de campanha federal, mas o governador deixou claro que a presença do presidente em Águas Lindas foi apenas institucional. A cidade goiana fica no entorno do Distrito Federal.
Interlocutores de Bolsonaro avaliam ainda que os embates com o presidente da Câmara devem permanecer, se Maia insistir em uma pauta que aumente as despesas públicas.
Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) aderiu à tese e disse na sexta-feira, em conversa com seguidores nas redes sociais. “O que não vai passar é o caos que a gente está vivendo hoje em dia. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, coloca adiante uma pauta, ele detona toda a economia do governo federal”, criticou Eduardo. “Esse é o Brasil que a gente está vivendo e o governo está tentando há mais de um ano negociar com o Congresso. A gente engole sapo, mas chega uma hora que tem o limite. Então, ontem (quinta-feira), o presidente até dá uma pausa longa antes de começar suas críticas ao Rodrigo Maia. Se não reagirmos, o Brasil vai para o ralo”, acrescentou.
A ofensiva teria também um horizonte de médio prazo, disseram fontes ao Valor. As dificuldades de interlocução com a atual cúpula do Congresso teriam feito o presidente reavaliar sua postura na corrida pelos cargos da Mesa Diretora da Câmara no ano passado. Na ocasião, Bolsonaro preferiu adotar um discurso de que se manteria neutro. Para a disputa de 2021, no entanto, ele estaria estudando a possibilidade de ser mais presente e tentar emplacar um aliado de primeira hora em um dos principais cargos da Casa.
Nas últimas semanas, ele encontrou-se com dois prováveis candidatos: o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), correligionários dos filhos Flávio e Carlos, e o líder do PP na Casa, Arthur Lira (AL).