Bolsonaro sofre forte queda no Twitter

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Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

Após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, a base do presidente Jair Bolsonaro ficou menor e ainda mais isolada no Twitter. É o que aponta um levantamento da Diretoria de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV), que analisou mais de 2,85 milhões de postagens sobre o tema na rede social, entre 11h e 18h de ontem, período que compreendeu tanto o pronunciamento do ministro quanto do presidente. Os dados apontam que a base fiel a Bolsonaro mobilizou apenas 9,5% desse volume.

O Twitter é considerado o território no qual bolsonaristas travam suas disputas e é usado pelos próprios aliados de Bolsonaro para medir a popularidade das decisões do presidente. O levantamento indica que, pela primeira vez, houve ataques a Bolsonaro no grupo à direita que tradicionalmente dá sustentação ao governo. Das postagens desse núcleo, 26% foram críticas ao presidente, acusado de se render à velha política e de traição contra o titular da Justiça. Cerca de 76% das publicações foram contrárias a Moro, com acusações, por exemplo, de insubordinação e de que o ministro “abandonou o barco”.

A maior parte dos tuítes sobre a saída de Moro (70%) partiu do grupo classificado pela DAPP/FGV como de oposição, que reúne perfis de vários espectros políticos e que repudiou a saída do ministro. O engajamento desse grupo foi maior ontem que no início de abril, quando somou 60%, durante a mobilização pela permanência do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, demitido no último dia 16. Ainda segundo a DAPP/FGV, 3,5% das postagens foram de grupos à direita, antes alinhados ao governo Bolsonaro, que lamentaram a saída de Moro. As demais publicações não tiveram alinhamento político.

Diretor da DAPP/FGV, Marco Aurelio Ruediger avalia que a base do governo Bolsonaro no Twitter está se “desmanchando”, apesar de a maior parte dela ter continuado a apoiar o presidente.

— Bolsonaro tem perdido espaço na rede e a saída de Moro pode custar mais um pedaço dessa base. A base que apoia o governo Bolsonaro está se desmanchando — diz o diretor da DAPP/FGV. – A saída de Moro fortalece a oposição a Bolsonaro. O centro pode achar o Moro uma alternativa interessante amanhã.

Nos dois primeiros lugares do debate, aparecem as hashtags em defesa de Moro #bolsonarotraidor e #forabolsonaro, em aproximadamente 44,8 mil e 27,4 mil postagens, respectivamente. Já a hashtag mais usada por apoiadores de Bolsonaro foi #tchauquerido, em 23,7 mil postagens, emterceiro lugar do debate.

Um levantamento amostral da consultoria Arquimedes feito após o pronunciamento de Moro e antes da fala de Bolsonaro também aponta alta proporção de mensagens contra Bolsonaro na rede social ontem. Os dados apontam que, entre as menções ao presidente no Twitter, 82% foram negativas e 18% positivas. Já em relação ao ex-ministro da Justiça, 88% das citações foram positivas e apenas 12% negativas.

De acordo com o levantamento da DAPP/FGV, o pico de publicações sobre o desembarque de Moro ocorreu durante o pronunciamento de Bolsonaro na tarde de ontem, quando foram registradas mais de 83 mil menções ao tema em menos de uma hora.

Professor da Universidade da Virgínia e estudioso do bolsonarismo, David Nemer afirma que o discurso de Bolsonaro foi fundamental para unir a base mais radical do presidente em grupos no WhatsApp.

— A base do presidente tem ficado menor e mais radical. No pronunciamento, o presidente disse coisas precisas que unem essa base. Ele citou o caso Marielle e falou novamente sobre a investigação da facada, por exemplo. São passagens concretas destinada a essa base radical. Lógico que saída do Moro gerou um choque, bem maior que a do Mandetta. Muita gente saiu dos grupos no WhastApp, mas foi uma minoria — diz o pesquisador, que monitora 68 grupos bolsonaristas na plataforma de troca de mensagens.

Pablo Ortellado, professor da USP e coordenador do Monitor de Debate Político no Meio Digital, que monitora mais de 500 grupos WhatsApp, apontou que as discussões foram marcadas ontem por brigas entre lavajatistas e demais bolsonaristas.

No Twitter, a base bolsonarista perdeu seguidores importantes. Um deles é Henrique Bredda, sócio de uma empresa de investimento e apoiador de primeira hora do presidente. Bredda, que tem 142 mil seguidores no Twitter, defendeu em suas postagens a candidatura de Moro em 2022. Influenciadores leais a Bolsonaro, como o pastor Silas Malafaia e o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, também surpreenderam ao manifestar apoio a Moro. Completam ainda a lista dos “bolsonaristas arrependidos” o agrônomo Xico Graziano, o músico Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, o apresentador Danilo Gentili e o comentarista Rodrigo Constantino.

O Globo