Carluxo recebe da Câmara do Rio sem trabalhar
Foto: Sergio Lima/AFP
No Plenário virtual da Câmara de Vereadores do Rio, Carlos Bolsonaro (Republicanos) chega na hora, pouco fala e nem sempre vota. Nas nove sessões que a Casa realizou virtualmente até esta terça-feira, o parlamentar só pediu a palavra uma única vez. E, em cinco das onze votações de projetos de lei para o enfrentamento ao novo coronavírus, retirou-se da sala para não participar. É o que aponta um levantamento do O GLOBO que tem por base as atas e transcrições das sessões realizadas pelo aplicativo Zoom desde o dia 22 de março por conta da crise sanitária. Os documentos estão disponíveis no site da Câmara Municipal do Rio. Carlos é visto frequentemente em Brasília onde, no Palácio do Planalto, se encontra com o pai, despacha e dialoga com ministros miliatares do governo.
Foi na primeira sessão remota, realizada em pleno domingo, que Carlos falou pela última vez em plenário. Durante a discussão do projeto de lei complementar que autorizava a ampliação do efetivo da Guarda Municipal (PLC 164/20), pediu a palavra para listar as iniciativas tomadas pelo Governo Federal no combate à Covid-19. O vereador fez questão de ressaltar o lugar que ocupava naquele momento junto à gestão do pai, o presidente Jair Bolsonaro:
“Sim, me encontro em Brasília, em contato direto com muitas informações sobre o assunto Covid-19. Acabo de sair de reunião do Presidente e prefeitos de capitais para alinhamento do destino de recursos e medidas sobre o coronavírus”, disse.
O vereador Reimont (PT) rebateu a declaração de Carlos:
“Na próxima vez que for discutir um PL aqui vou falar das ações do prefeito de minha cidade. O assunto aqui não é o PLC da Guarda Municipal?”, questionou.
Dali em diante, Carlos não falou mais. Tampouco votou o projeto, o único na pauta do dia. Ausentou-se, assim como o democrata Alexandre Isquierdo e a emedebista Verônica Costa, que sequer compareceu à sessão. Três dias depois, quando o PLC voltou a plenário para segunda discussão, o vereador também preferiu registrar presença e, em seguida, retirar seu quórum. Foi o único dos 51 parlamentares que não votou o texto, aprovado por 44 votos a seis. Era, novamente, o único projeto a ser votado no dia. Então membro do PSC, o vereador teve postura distinta da adotada pelo ex-colega de partido, Major Elitusalem, favorável à proposta nas duas ocasiões.
Outros dois projetos passaram sem que o vereador dissesse que sim ou que não. Eram os projetos de lei 749/20, que reconhece o estado de calamidade na cidade do Rio de Janeiro por conta do Covid-19, e o 728/20, que estende os benefícios do programa Cartão Família Carioca, votados em primeira discussão no dia 1º de abril. No mesmo dia, uma nova sessão extraordinária pôs em segunda discussão o reconhecimento do estado de calamidade. Carlos registrou sua presença no início e, em seguida, durante a votação, se retirou. O texto foi aprovado com 43 votos e duas abstenções.
Dois dias depois, Carlos mudou de postura em relação ao Cartão Família Carioca: ao lado de mais cinco vereadores, decidiu pelo “não” à ampliação do programa social. A votação precisou ser refeita por conta das emendas feitas ao projeto e, por fim, acabou adiada.
Este foi o segundo voto negativo do vereador durante a quarentena: no dia 23 de março, ele já havia votado “não” para o projeto de lei complementar 166/20, que suspendia o atendimento presencial ao público em estabelecimentos comerciais do município durante 15 dias. Na ocasião, outros dezoito parlamentares também recusaram o projeto, que acabou arquivado.
Nesse meio-tempo, os dois projetos que ganharam a aprovação de Carlos Bolsonaro foram o PL712/20, que cria o Fundo Emergencial de Combate à Covid-19, e o PL737/20, que autoriza o Executivo municipal a suspender as vinculações de receitas instituídas por legislações municipais, para utilizá-las no combate ao surto da doença na cidade, em programas de assistência social e no pagamento de servidores municipais. Ambos os projetos foram aprovados em segunda discussão no dia 30 de março.
Por sua vez, a sessão do dia 07 de abril foi encerrada após pedido de verificação de quórum pelo vereador Thiago K. Ribeiro (MDB), que justificou que o único projeto da pauta não tratava do combate ao coronavírus. O texto versava sobre a inclusão de cargos na lei que define a estrutura da rede municipal de ensino. Aqui, Carlos ficou até o fim para se despedir. Dos 49 nomes que abriram a sessão, apenas 15 restavam.
Com presença frequente no Palácio do Planalto, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) se aproximou de ministros militares, a ala considerada moderada no governo. Walter Braga Netto, chefe da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, têm mantido diálogo e trocado mensagens com o filho do presidente Jair Bolsonaro em meio à pandemia do novo coronavírus.
Apontado como líder do chamado “gabinete do ódio”, Carlos tem causado apreensão entre assessores, que temem estar sendo vigiados ou até gravados. Alguns já relatam que vão tomar cuidado com quem atendem em seus gabinetes, para evitar teorias da conspiração sobre vazamento de informações.
É no Palácio do Planalto que Carlos tem se encontrado com o pai. O vereador e a primeira-dama Michelle Bolsonaro não mantêm uma boa relação e, com isso, o filho do presidente tem evitado frequentar o Palácio da Alvorada quando está em Brasília. Segundo interlocutores do governo, Michelle fez questão de dizer a aliados que a sala do assessor especial de assuntos internacionais, Filipe Martins, liberada no terceiro andar será dela para trabalhar no programa Pátria Voluntária.
No Planalto, Carlos tem “despachado” do gabinete do assessor Especial da Presidência, Célio Faria Júnior, que fica no terceiro andar, ao lado do presidente. Segundo interlocutores, apesar de recair sobre Carlos a autoria das publicações mais ideológicas das redes de Bolsonaro, o vereador tem agido de forma mais comedida nas redes sociais do pai. Além dele, outros três assessores do chamado gabinete do ódio têm a senha do perfil de Jair Bolsonaro e a liberdade de fazer postagens, afirmam aliados.