Divergência de Mandetta é única no ministério fascista

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Foto: Carolina Antunes/PR

Nem mesmo as possíveis consequências da pandemia do novo coronavírus no Brasil fizeram a ala ideológica do governo questionar as ações e atitudes do presidente Jair Bolsonaro.

Ele tem se mantido na contramão do que dizem especialistas e líderes mundiais, incluindo o americano e aliado Donald Trump, e também do discurso de um bloco que inclui os ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Sergio Moro (Justiça).

Mas a grande maioria dos ministros que se enquadra no grupo ideológico apoia as medidas do chefe do Executivo.

Outros ministros e assessores mais radicais estão alinhados a Bolsonaro na defesa do que ele chama de isolamento vertical —retirada do convívio social apenas dos maiores de 60 anos e grupos mais suscetíveis à Covid-19— e da reabertura do comércio e de outras atividades normalmente.

O ministro Abraham Weintraub (Educação) escreveu na quarta-feira (1º) em suas redes sociais que, por ele, as escolas e outras instituições de ensino voltariam a funcionar no mês de abril.

Weintraub ignorou a recomendação de Mandetta, que, dois dias antes, em entrevista coletiva, afirmou que as crianças e os jovens não podem voltar às aulas.

O ministro da Educação e seu irmão Arthur Weintraub são algumas das vozes ouvidas pelo presidente durante a crise. Arthur, que é assessor especial da Presidência, é um dos principais defensores do uso da cloroquina para o combate à Covid-19.

“Zumbis ficam infestando meu Twitter dizendo que não posso falar da cloroquina porque não sou médico. Tenho pós-doutorado pelo Departamento de Neurociências da Universidade Federal de São Paulo. Tese envolveu epilepsia, direito previdenciário e atuária. Eu poderia ser diretor da OMS [Organização Mundial da Saúde]!”, escreveu em sua conta.

Levantamento feito pela Folha aponta que seis ministros apoiam integralmente as ações e os posicionamentos do presidente.

Além de Weintraub, estão no mesmo barco Ricardo Salles (Meio Ambiente), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e Onyx Lorenzoni (Cidadania).

Araújo tem sido constantemente usado por Bolsonaro para contrapor as recomendações da OMS. O ministro tem diminuído as recomendações do organismo e municiado a narrativa do presidente apontando que é “importante salvaguardar os empregos”.

A secretária especial da Cultura, Regina Duarte, tem feito uma série de publicações em suas redes sociais em apoio à fala de Bolsonaro. Mas está em isolamento desde 21 de março, quando voltou a São Paulo e passou a trabalhar de casa.

Uma das integrantes mais ativas do núcleo ideológico, Damares Alves (Direitos Humanos) chegou a retuitar uma postagem de Bolsonaro afirmando que ele “estava certo” sobre a preocupação com a economia.

Apesar de defender Bolsonaro publicamente, a ministra tem pregado internamente, em reuniões com a equipe, que a pasta siga orientações da Saúde e, nesse sentido, formula ações focadas no isolamento mais robusto.

Na semana passada, depois do pronunciamento em que Bolsonaro defendeu o fim das medidas de isolamento, uma integrante da equipe ligada ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) sugeriu que a pasta estimulasse jovens a retomar suas atividades de trabalho. A ministra vetou a iniciativa.

Além disso, o Ministério dos Direitos Humanos tem elaborado uma série de cartilhas com sugestões de brincadeiras para crianças durante a quarentena, entre outros.

Em material lançado nesta semana, a pasta comandada por Damares indica defender o isolamento social e sugere a prostitutas que atendam a seus clientes de maneira virtual.

O documento é direcionado a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros que, muitas das vezes, “vivem num contexto de extrema vulnerabilidade social”, diz o texto.

Fora do chamado núcleo ideológico, outros três ministros —Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e André Mendonça (Advocacia-Geral da União)—, quando questionados pela imprensa, endossam o presidente, mas em reuniões internas e a assessores próximos têm apoiado as recomendações de restrição da equipe da Saúde.

Oliveira e Mendonça, inclusive, foram os responsáveis por levar o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), a uma reunião com Bolsonaro no Palácio do Alvorada no sábado (28), onde foi discutida a necessidade de o presidente melhorar seu diálogo tanto com sua equipe quanto com a sociedade e com os outros Poderes.

Os outros ministros têm evitado defender publicamente o isolamento social recomendado pelo Ministério da Saúde para não contrariar o presidente.

Os que falaram publicamente sobre a necessidade do distanciamento social foram excluídos do núcleo próximo de aconselhamento do presidente.

Além de Mandetta, Sergio Moro, Paulo Guedes (Economia), Tereza Cristina (Agricultura) e até o astronauta Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) perderam influência nas últimas semanas. ​

Apoiam publicamente o isolamento total

Henrique Mandetta (Saúde)
Paulo Guedes (Economia)
Sergio Moro (Justiça)
Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia)
Tereza Cristina (Agricultura)

Apoiam publicamente Bolsonaro e a reabertura do comércio

Abraham Weitraub (Educação)
Ricardo Salles (Meio Ambiente
Arthur Weintraub (assessor especial da Presidência)
Onyx Lorenzoni (Cidadania)
Ernesto Araújo (Relações Exteriores)
Augusto Heleno (GSI)
Regina Duarte (Secretária Especial da Cultura)

Publicamente afirmam uma coisa e, nos bastidores, defendem outra

Damares Alves (Mulher, Direitos Humanos e Família)
Jorge Oliveira (Secretaria-Geral)
Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional)
André Mendonça (Advocacia-Geral da União)​

Folha