Doria condiciona abertura do comércio a leitos de UTI
Foto: Reprodução/VEJA
O governo de São Paulo lançou hoje o plano de retomada da atividade econômica, que começa a valer em 11 de maio. Além disso, o governador João Doria (PSDB) afirmou que a fila para testes para covid-19 no estado foi zerada e que vai repreender manifestações que bloquearem ruas que dão acesso a hospitais.
Em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, Doria anunciou que o término da quarentena deverá respeitar um cronograma por fases e será diferente para cada região, dependendo da disponibilidade de leitos nos hospitais.
Serão criados três níveis conforme o avanço da covid-19: zona vermelha, amarela e verde. Hoje, não existe nenhuma cidade na zona verde. Para traçar o plano, foram estudados os casos de outros países e analisadas estatísticas locais, explicou o secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann.
Ele falou que foram usadas oito referências que tratavam de temas como diminuição de novos casos, aumento do número de testes, a capacidade de leitos da rede pública de saúde. Serão respeitadas realidades divergentes de municípios e regiões e feito em fases.
Dirigindo-se a deputados, prefeitos, vereadores e entidades, o governador Doria afirmou que até o final da quarentena nada mudará. Há pressão de vários setores para retomada do comércio.
“Até o dia 10 de maio não haverá nenhum movimento, nenhuma alteração ao programa da quarentena no estado de São Paulo”.
Durante a coletiva, o governo também anunciou que zerou a fila de testes para a covid-19 no estado, que já chegou a 21 mil exames. A medida foi possível com a chegada de kit comprados na Coreia do Sul e a inclusão de mais laboratórios na rede que processa os testes.
Acabar com a fila é importante porque o monitoramento de novos casos é um dos requisitos para o plano de retomada da atividade. Depois de um mês de filas, agora São Paulo consegue processar os testes no prazo de 24 horas.
Doria também aproveitou a coletiva para criticar pessoas que fizeram manifestações nos dois últimos finais de semana. Ele reclamou da postura por desrespeitar as normas da OMS (Organização Mundial de Saúde) e disse que orientou a Polícia a Prefeitura de São Paulo a repreender quem bloquear ruas.
“Orientei novamente o setor de Segurança Pública do estado de São Paulo e pedi ao Bruno Covas, prefeito da capital, que orientasse também os profissionais e técnicos da CET [Companhia de Engenharia de Tráfego] para impedir qualquer fechamento de rua ou avenida em São Paulo”, afirmou.
Segundo ele, bloquear o direito de ir e vir, principalmente em vias como a avenida Paulista, que dá acesso a diversos hospitais públicos e privados, merece reprovação.
“Pessoas que agem desta maneira estão sabotando a saúde, estão sabotando os profissionais da saúde”, declarou.
Quando saírem de suas casas e se tornaram amigos do vírus e inimigos da vida, façam as suas manifestações de forma segura pela internet. Nós não somos contra as manifestações, vivemos em um regime democrático, mas não sejam irresponsáveis em fazer isso nas ruas nas avenidas de São Paulo. (João Doria, governador de São Paulo)
O governador disse que em momento algum o estado inteiro parou, e citou vários setores que continuaram funcionando durante a quarentena como supermercados, açougues, farmácias, feiras, postos de combustíveis, cartórios, construção civil, bancos e outros. Ele finalizou dizendo que 74% das atividades permaneceram operando.
Doria mencionou a lista para afastar o discurso que fez São Paulo parar e ressaltou que em momento algum houve “lockdown”, o que ocorreu em países muito atingidos pela covid-19.
O vice-governador e secretário de Governo, Rodrigo Garcia, afirmou que não fosse o isolamento social, a cidade de São Paulo estaria sem leitos, como ocorre em outras capitais.
“Podemos calar muito das críticas injustas e irresponsáveis que vem sendo feitas à quarentena em São Paulo”, declarou Doria.
A retomada será acompanhada por um conselho econômico criado pelo governo e que tem nomes com Pérsio Árida. A nova fase é de controle dos riscos e pretende recuperar a economia de maneira equilibrada com os cuidados de saúde. Os dados das duas áreas serão acompanhados para determinar as medidas do governo de São Paulo.
O secretário de Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que haverá monitoramento do consumo das famílias para assegurar que as pessoas consigam se manter.
Ele está preocupado com a liquidez das empresas. Ele mencionou melhorar a segurança jurídica para aumentar os grandes investimentos privados e citou a concessão de rodovias como exemplo de investimento que pode gerar emprego.
A retomada das atividades vai ocorrer depois de mais de um mês de quarentena, que começou em São Paulo em 23 de março e contou duas prorrogações. Neste período, mantidos abertos serviços e atividades essenciais e incentivado o isolamento social com o argumento de que é a única alternativa para diminuir a disseminação do coronavírus e assim impedir que todos adoeçam ao mesmo tempo e falte leitos.
Hoje, a cidade de São Paulo e a região metropolitana enfrentam uma alta demanda por leitos de UTI. Há três hospitais sem vagas e um crescimento contínuo. Quando anunciou a última prorrogação da quarentena, na última sexta-feira, o governo do Estado levou em consideração um estudo do Centro de Contingência ao Coronavírus que mostrava haver um atraso de três semanas na contaminação do interior. Ou seja, a capital enfrenta hoje uma situação que o restante do Estado passará daqui três semanas.
Mesmo assim, a pressão política foi alta e cidades chegaram a editar decretos permitindo a reabertura do comércio. Na sexta-feira, Indaiatuba começou a reabertura gradual do comércio. A cidade tinha uma morte e 27 casos confirmados na ocasião. Guarujá, voltou ontem.