Em calamidade, Pernambuco quer quarentena total
Foto: Marlo Costa/Futura Press/ Estadão Conteúdo
Com 88% dos novos leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) criados para tratar os casos de coronavírus ocupados, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, admitiu ontem que o governo do estado analisa a eventual necessidade de ampliação do isolamento social, mas considera “muito difícil” implementar um fechamento no estado, mesmo com a aceleração da contaminação.
“Temos analisado todos os cenários. Obviamente que é muito difícil pensar num lockdown, a chamada quarentena absoluta, sem que você tenha o apoio do governo federal, o apoio das Forças Armadas. E sabemos que o cenário político, em especial da maior liderança do país, nos impede de ter uma parceria mais estreita no sentido de avançar para um processo de lockdown”, disse.
O lockdown é quando há bloqueio total de atividades e circulação em determinados locais.
“Temos avaliado essa situação diuturnamente, com o governador [Paulo Câmara(PSB)], secretário e técnicos, para que possa tomar as melhores decisões.”, completou Longo.
O secretário admite que o cenário em Pernambuco preocupa, e que o índice de isolamento social está longe ainda do ideal.
“Estamos em uma aceleração de curva epidêmica, que está atenuada pelo comportamento social; mas poderíamos ter um isolamento maior, na casa dos 70%. Hoje esse isolamento é pouco superior aos 50%”, afirma.
O avanço do coronavírus em Pernambuco está levando a uma corrida das autoridades contra o tempo para ampliar a rede de saúde para dar conta da demanda.
Somente no Recife foram montados três hospitais de campanha, e mais quatro estão em fase de finalização.
O estado anunciou a contratação de 5.000 novos profissionais de saúde, e a prefeitura do Recife já contratou 658 profissionais. Em pouco mais de 30 dias, foram abertos 467 leitos em Pernambuco, entre enfermaria e terapia intensiva.
Em três semanas, o secretário explicou que o número médio de internações por SRAG [Síndrome Respiratória Aguda Grave] saltou de de 21 para 45 por dia.
“A ocupação média nos leitos de UTI, de 20 a 23 de março, era de 49%; atualmente, mesmo com a abertura de novos 204 leitos, ela tem variado entre 80% e 90%, às vezes superando. Hoje [ontem] à tarde estava em 88% [180 leitos]. Não fosse os esforços do governo do estado e de parte significativa da população, teríamos uma situação bem mais difícil”, disse.
Dos pacientes internados na UTI, 63 tem diagnóstico de covid-19 confirmado, enquanto outros 117 estão com SRAG aguardando resultado de exames ou infectados por outros vírus ou bactérias.
O secretário ainda fez um apelo à população para que ela não duvide que a epidemia de covid-19 ainda está em seu começo. “Acredite na realidade, não alimente falsas esperanças de que o vírus está indo embora. Ao contrário, ele está cada vez mais perto de nós”, afirmou.
Segundo o chefe do setor de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Demetrius Montenegro, um dos problemas gerados pela covid-19 —e que pressiona a rede de saúde— é a quantidade de dias de internação em casos graves.
“O que temos de média, em leito de enfermaria, é de cinco a sete dias de internação. Indo para a UTI, essa permanência aumenta muito, e a média passa a ser de 21 dias. O paciente fica prendendo aquele leito por um tempo muito prolongado”, alerta.
Montenegro ainda chama a atenção para uma situação inusitada, mas que vem o preocupando.
“Às vezes as pessoas se negam a dizer que estão com sintomas gripais, muitas vezes só fazem associação da covid-19 a um fenômeno de maior gravidade. Ela pode ter sintomas leves e ignorar, ir trabalhar e contaminar as pessoas. Nesse momento de epidemia, como diz o Ministério da Saúde, qualquer sintoma gripal a pessoa deve ficar em isolamento porque a gente não tem teste para todo mundo”, afirma.