Embaixada da China responde a post de Weintraub: foi de “cunho fortemente racista”
Foto: Jorge William / Agência O Globo
Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, o deputado federal Fausto Pinato (PP-SP) repudiou nesta segunda-feira publicação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em que personagem Cebolinha, dos gibis da Turma da Mônica, foi utilizado para fazer comentários xenofóbicos sobre a China. A postagem, já deletada do Twitter do ministro, gerou resposta da embaixada do país oriental no Brasil, que apontou “cunho fortemente racista” e “influências negativas” nas relações bilaterais entre os dois países. Para o parlamentar, a manifestação pode ter comprometido parcerias do agronegócio do Brasil com a China e “beira a insanidade e irresponsabilidade” com o setor.
“Pelo jeito, se tem um ministro que está firme e forte no cargo, é o Weintraub, da Educação. É que trata-se de uma pessoa despersonalizada que se presta ao papel de postar em rede social o que manda o gabinete do ódio do Planalto. Eis aí mais uma delas. E o Ministério da Educação, que Weintraub deveria cuidar, mais parece um barco a deriva, sem rumo e os projetos sem comando. É assim que age o governo paralelo, cujas ordens vem dos Estados Unidos, através de um tal Olavo! Deus tenha piedade do Brasil!”, escreveu Pinato.
Segundo Weintraub, a pandemia do novo coronavírus, que teve seu marco zero na China, seria parte de um “plano infalível” do país para dominar o mundo. “Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu o ministro, trocando a letra “r” por “l”, tal qual o personagem de Maurício de Sousa.
Em resposta, a embaixada chinesa em Brasília disse que o ministro, “ignorando a posição defendida pela parte chinesa em diversas gestões, fez declarações difamatórias contra o país em redes sociais, estigmatizando Pequim ao associá-lo à origem da Covid-19”: “Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil”, continua a nota, afirmando que o lado chinês manifesta “forte indignação e repúdio” à atitude.
Pinato deus seus “parabéns” a quem classificou como “idiotas ideológicos” e “aqueles que insistem em defendê-los”. E disse ser um “absurdo” que o Brasil esteja servindo “de boi de piranha dos Estados Unidos”. “E poderemos em breve ter comprometido as parcerias do agronegócio com o Brasil, favorecendo outros países”, apontou o deputado, que é coordenador da Frente Parlamentar Brasil-China.
Ele disse ainda que dois filhos do presidente Jair Bolsonaro –o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que há menos de um mês provocou outra crise diplomática com a China, e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ)–, Weintraub e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, são “todos inimigos da China e amigos de [Donald] Trump”, o presidente dos Estados Unidos. E ironizou que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, dizendo que tendo esses quatro amigos, ela não precisa de inimigos.
“O problema é que o prejuízo pela não exportação da soja é do Brasil e do povo brasileiro”, criticou.
Pinato contou ter que falado por mensagens de WhatsApp com os principais líderes parlamentares apelando para que o Congresso reaja rápido “para não deixar instituir o caos que os olavistas querem junto com o ‘gabinete do ódio’ para o país, para depois jogar a culpa pela incompetência do governo nas nossas costas”.
“Estamos com um comando paralelo na presidência, por isso Bolsonaro muda de ideia várias vezes num mesmo dia. Até parece que Bolsonaro está refém desta gente.
O congresso nacional tem que reagir, exigindo de Bolsonaro menos conversa fiada e mais pragmatismo nas pautas de interesse nacional.”, cobrou o deputado, que disse ser de direito, mas não poder “aceitar essa irresponsabilidade”. .