Ex-presidentes latinos criticam governantes negacionistas

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Foto: Bruno Santos

Apesar da crise do novo coronavírus exigir ação rápida e decisiva, as respostas políticas na América Latina têm sido desiguais, com governos que minimizam os riscos da pandemia e optam por uma política populista em meio à tragédia. A conclusão é da carta “Imperativos éticos e econômicos no enfrentamento do Covid-19: uma visão da América Latina”, assinada por quatro ex-presidentes, entre eles Fernando Henrique Cardoso, e autoridades da área econômica, como o ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn.

“Vários governos reagiram prontamente, fazendo da proteção à saúde pública seu principal objetivo. Infelizmente, outros tendem a minimizar os riscos da pandemia, desinformando os cidadãos e desconsiderando tanto evidências científicas quanto orientações de seus próprios especialistas”, diz o documento.

Para os 13 líderes que assinam a carta, incluindo os ex-presidentes Ricardo Lagos (Chile), Juan Manuel Santos (Colômbia) e Ernesto Zedillo Ponce de León (México), a pandemia da covid-19 é um choque de magnitude sem precedentes que pode levar a um dos episódios mais trágicos na história da América Latina e do Caribe.

A prioridade, segundo eles, deve ser diminuir a morbidade e mortalidade da doença. “O foco na América Latina deve estar na melhoria de nossos sistemas de saúde, canalização de recursos para hospitais, adaptação temporária de infraestrutura ociosa, tais como hotéis e centros de convenções, e a ampliação radical da capacidade de realizar testes.”

O contexto de crise não pode servir de motivo para o enfraquecimento das democracias “duramente conquistadas”, dizem os líderes. Ao contrário, devem ser oportunidade para fortalecê-las. “O mundo e a região da América Latina e do Caribe não podem se permitir respostas atrasadas ou inadequadas. Confiança mútua, transparência e racionalidade e não populismo ou demagogia, são as melhores diretrizes nestes tempos de incerteza.”

O documento trata ainda dos prejuízos às economias da América Latina, sobretudo com a queda nos volumes e preços de exportação, perda de renda do turismo, e remessas internacionais.

Além de medidas para preservar os empregos e as empresas dos países, a carta faz um apelo para que os líderes latino-americanos exijam a cooperação internacional para enfrentar a crise. “Eles deveriam condenar controles de exportação de suprimentos médicos e outros recursos críticos, e exigir recursos maiores para a Organização Mundial da Saúde, contrariamente à decisão imprudente anunciada pelo governo norte-americano.”

Estadão