Mandetta compara Bolsonaro a diabético que come doces
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Henrique Mandetta é ortopedista. Mas mantém com Jair Bolsonaro um relacionamento de acupunturista. Trata-o na base da agulhada. O ministro voltou a espetar o presidente.
Em entrevista à TV Globo, odiada pelo chefe, Mandetta disse que, na guerra contra o coronavírus, o brasileiro “não sabe se escuta o ministro da Saúde ou o presidente.” Comparou os críticos do isolamento social, como Bolsonaro, a diabéticos indisciplinados.
“Tem pessoa que come doce sistematicamente mesmo sendo diabético. A gente pode dizer pra ela: ‘Olha, você vai ter problema. Seu rim vai parar, você pode ter déficit de visão, amputação de perna. E a pessoa continua comendo doce.”
O “déficit de visão” de Bolsonaro já é nítido. Neste domingo, em videoconferência com religiosos, o presidente tratou a pandemia como uma página praticamente virada: “Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas está chegando e batendo forte a questão do desemprego.”
A contabilidade do Ministério da Saúde demonstra que o pior cego é um presidente que não quer ouvir o seu próprio governo. Neste domingo, os diagnósticos positivos para o coronavírus somavam 22.169. Os mortos, 1.223.
Tomado pelas palavras, Mandetta parece prever que a retórica de Bolsonaro, já meio cambaleante, logo ficará perneta, pois o pior está por vir: “A gente imagina que os meses de maio e junho serão os 60 dias mais duros para as nossas cidades.”
Enquanto Bolsonaro confraterniza com pastores e se apega ao misticismo, Mandetta ecoa os cientistas: “Infelizmente não vai ser num passe de mágica que a gente vai passar por isso. A gente tem que se pautar por foco, disciplina, ciência. E ficar muito firme nesse tripé, com planejamento, para sair disso.”
Mandetta continua se expressando como um ministro em estado crônico de demissão: “Sabemos que serão dias duros, seja conosco ou seja com qualquer outra pessoa.”
Se Bolsonaro fosse um personagem lógico, ele exerceria a coragem que diz possuir, enviando Mandetta para o olho da rua. Entretanto, a coragem do capitão revela-se uma qualidade fugidia.
É como se, no fundo da alma, o presidente da República cultivasse o medo de ter que usar óculos escuros e muleta.