Mandetta: “médico não abandona paciente”
Foto: Adriano Machado/Reuters
As críticas públicas do presidente Jair Bolsonaro de que estaria “faltando humildade” ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, não devem levá-lo a pedir demissão do cargo por enquanto. A aliados, o ministro tem garantido que seguirá a postura de “médico que não abandona o paciente”, permanecerá “trabalhando” para “salvar o maior números de vidas que conseguir” e só deixará o Ministério da Saúde se Bolsonaro o demitir. Já após a crise, Mandetta tem dito que deve rever seus rumos.
Mandetta não acompanhou a entrevista do presidente na noite de quinta-feira, porque participava de uma conferência de medicina. Ao ser questionado pelo GLOBO sobre os comentários de Bolsonaro, afirmou que não estava sabendo, poque que estava “trabalhando”.
Aliados de Mandetta viram na resposta simples do ministro, uma saída estratégica para permanecer no cargo enquanto for preciso “trabalhar”. Mandetta tem recebido conselhos para que consiga manter “a frieza de um médico” diante uma doença grave, sem se deixar abalar. Algumas pessoas mais próximas admitem que o ministro está “decepcionado” com o tratamento que tem recebido de Bolsonaro, mas que isso não o fará mudar sua concepção de que é importante insistir no isolamento social.
Bolsonaro tem repetido que o isolamento social pode trazer danos irreparáveis à economia e já chegou a pedir que as pessoas voltem ao trabalho. Mandetta, por outro lado, está preocupado em evitar o avanço descontrolado da propagação do vírus e pede que as pessoas fiquem em casa, não trabalhem, já que o sistema de saúde pode entrar em colapso.
Aliados de Mandetta tem associado ao ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB-RS) as orientações divergentes que o presidente tem recebido. Terra tem comparado o Covid-19 à gripe H1N1, que acometeu o país quando Terra era secretário de saúde. Foi Terra – sem a presença de Mandetta – que conduziu a reunião com médicos para tratar de cloroquina no Palácio do Planalto.
Na entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro afirmou que, embora nenhum ministro seja indemissível, não pretende tirar Mandetta no meio da crise.
— Olha, o Mandetta já sabe que a gente esta se bicando há algum tempo. Não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Em algum momento, ele extrapolou. Respeitei todos os ministros, ele também. A gente espera que ele dê conta do recado. Tenho falado com ele. Ele está numa situação meio… Se ele se sair bem, sem problema. Nenhum ministro meu é indemissível — disse Bolsonaro, em entrevista a rádio Jovem Pan.
Bolsonaro também disse que, “em alguns momentos”, Mandetta teria que “ouvir um pouco mais o presidente da República”.
— Ele (ministro) tem responsabilidade, sim. Ele cuida da Saúde, o Paulo Guedes cuida da Economia, e eu entro aqui no meio para cuidar das duas áreas — disse.
Ao longo da quinta-feira, Bolsonaro se reuniu com pelo menos oito ministros no Palácio do Planalto e também no Alvorada. Nas reuniões, o presidente já havia dado vários sinais de que está incomodado com as decisões de Mandetta à frente da pasta. Bolsonaro não deixou claro nas conversas com os ministros se pretende trocar Mandetta, mas demostrou muito incômodo quando se referia ao subordinado, o que despertou atenção de alguns ministros.
Numa das reuniões, Bolsonaro recebeu o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, que ganhou respeito do presidente. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acompanhou a conversa com Barra.