OMS insinua que Trump favorece pandemia
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O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, criticou o corte de repasse de dinheiro dos EUA para a instituição, em meio a uma pandemia que está colocando o mundo de joelhos. Mas ele alertou nesta quarta-feira que já está em contato com outros parceiros para suprir o buraco que a decisão da Casa Branca pode gerar para as operações da agência.
Tedros ainda lançou um alerta: uma divisão na comunidade internacional neste momento vai ser usada pelo vírus para ganhar terreno.
Na terça-feira, Donald Trump anunciou a suspensão de seus pagamentos para a OMS, o que implica um golpe importante para o orçamento de US$ 2 bilhões da entidade. Os americanos destinam, por ano, US$ 400 milhões.
A decisão do americano foi duramente criticada, inclusive por países aliados. Bill Gates, um dos maiores doadores da OMS, alertou que o corte vem justamente no momento em que o mundo mais precisa da agência de Saúde.
Na OMS, Tedros lembrou da história da entidade e sua criação, com ideia de promover a saúde de todo. Ele garantiu que essa continua sendo a missão da agência.
“Os EUA têm sido um amigo de longa data e generosos da OMS e esperamos que continue assim. Lamentamos a decisão do presidente de ordenar uma suspensão de pagamentos”, disse o etíope.
De acordo com ele, a agência começou já a avaliar o impacto que o corte de dinheiro terá sobre programas específicos. Tedros também indicou que já está em contato com outros governos para preencher o buraco deixado pela suspensão de dinheiro americano. Isso, segundo ele, tem como objetivo permitir que a agência continue a funcionar.
“Vamos trabalhar sem medo e sem favor”, alertou.
Apesar do abalo, Tedros deixou claro que vai manter seu compromisso de “lutar até o final” diante do vírus. “Nosso compromisso é com todo o mundo”, insistiu.
Num discurso cuidadosamente elaborado, o etíope pediu “união” do mundo diante de um “vírus perigoso”. Para ele, se a liderança internacional estiver dividida, o vírus vai encontrar brechas para se proliferar.
Tedros também promete transparência e garantiu que, assim que a pandemia terminar, órgãos independentes vão avaliar como a entidade se comportou. Segundo ele, áreas de melhoria serão identificadas. “Lições serão apreendidas”, insistiu o diretor.
Mas, para Tedros, o momento não é esse. “Meu foco é parar o vírus e salvar vidas”, declarou. De acordo com ele, três vacinas já começaram a ser testadas e outras 17 estavam sendo avaliadas.
Trump, para justificar o corte de recursos, se queixou de que a OMS não o teria apoiado na ideia de implementar uma suspensão de vôos da China. A Casa Branca também acusou a agência de ter demorado para reconhecer que havia uma transmissão entre pessoas, em janeiro.
A OMS contestou essas alegações. De acordo com Michael Ryan, diretor de operações da agência, um primeiro alerta foi emitido pela OMS no dia 5 de janeiro e insistiu que, em seu primeiro guia publicado, já tratou do risco de transmissão entre pessoas.
Sobre a imposição de restrição de vôos, Ryan insiste que esse não é o mandato da OMS. “Trata-se de um direito soberano dos países. Apenas pedimos justificativas e que elas sejam colocadas com base em ciência”, apontou.
Outra crítica americana se refere à postura da OMS em relação ao governo chinês. Tedros, porém, rejeita qualquer privilégio para Pequim. “Vamos continuar a trabalhar com todos os países. Nossa missão é a de tratar com todos, intendente de seu poder”, insistiu.
Ele lembrou que o vírus não discrimina entre nações ricas e pobress, pequenos e grandes, e nem entre ideologias. “E nós tampouco (faremos essa discriminação)”, prometeu.
Para ele, porém, um corte de verbas não afeta apenas a luta contra a pandemia, mas programas sobre malária, Ebola, tuberculose, câncer, diabete e outros.