Palhaçada na PF custará caro a Bolsonaro
Foto: Evaristo Sá/AFP
Jair Bolsonaro não terá vida fácil diante de uma corporação chamada Polícia Federal depois de ter demitido Maurício Valeixo. Bolsonaro não estava satisfeito porque a PF estava cumprindo seu trabalho, em vez de proteger sua família de investigações incômodas.
Agora, vai nomear um diretor-geral sob medida para seus objetivos.
O problema é que, pela tradição da PF, as sucessões têm outra dinânima. Há décadas a coisa funciona assim: o diretor-geral que sai indica uma série de nomes (em geral seus assessores mais próximos, superintendentes regionais ou adidos no exterior) ao ministro da Justiça. Este leva o seu escolhido ao presidente da República, que chancela a indicação. A ideia de subverter esse jogo e a nomeação vir diretamente de Bolsonaro não é só uma humilhação (mais uma) que Moro não parece disposto a aceitar — mas é também algo que a corporação deve rejeitar com vigor.
Internamente, os elegados mais graduados lembram o desastre de uma tentativa recente de mudar a tradição na nomeação do diretor-geral. No início de 2018, Fernando Segóvia foi demitido do comando da PF depois de apenas 99 dias no cargo.
Foi o primeiro ato de Raul Jungmann como ministro da entáo recém-criada pasta da Segurança Pública. Jungmann sacou Segóvia, um diretor que em apenas três meses se tornara pivô de uma crise política.
Segóvia fora escolhido por Michel Temer, atendendo à indicação de emedebistas enrolados na Lava-Jato e passando por cima da opinião do então ministro da Justiça, Torquato Jardim.
Já na cerimônia de posse disse ao que veio: botou em dúvida fatos das investigações sobre Rodrigo Rocha Loures, aquele assessor de Temer que foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil das mãos de um diretor da JBS. A partir daí, foi crise em cima de crise. Segóvia tentou mas nunca conseguiu liderar a PF nos três meses que esteve à frente dela. Durante o seu tempo como diretor-geral, não conseguiu controlar a PF do jeito que Temer e parte do MDB queriam.