Parlamentares enfrentam confinamento, roupa suja e faxina
Foto: Reprodução/Folha
Pouco depois das 6h, o despertador toca no quarto da senadora Kátia Abreu (PP-TO), 58. Sem demora, ela veste a sua chamada “roupa de guerra” e vai para a batalha do dia. A começar pela pilha de roupas, que retira dos cômodos e leva para a máquina de lavar na casa onde mora em Palmas.
Em período de isolamento social para barrar o contágio do novo coronavírus, a parlamentar tem dividido seus dias entre os afazeres domésticos e as sessões virtuais do Senado. Kátia conta que começa colocando a roupa na máquina, tarefa que cabe a ela.
A cozinha é dividida com o marido, em dias alternados que cumprem uma escala para evitar sobrecarga. Quando cozinha, até quiabo ela faz questão de colher na horta.
“Em tempo de coronavírus a gente tem de se virar, lavar, passar, cozinhar, fazer bolo. Até bolo já fiz hoje. Tem sessão no Senado, articulação das matérias, trabalhar para que as matérias sejam votadas. A gente precisa ser mil e uma utilidades. É assim que nós, mulheres do Brasil, somos, graças a Deus”, disse, enquanto mostrava um bolo feito por ela para o café da tarde.
Dentro de casa, a senadora vive um isolamento à parte. Seu filho Iratã Abreu, 34, foi diagnosticado com a doença e se recupera fechado dentro do quarto. Para levar as refeições a ele, Kátia e o marido usam roupas separadas e máscaras e evitam contato.
“Pior é quem está nos hospitais. Nós estamos em casa e temos de comemorar”, disse.
A rotina em casa na cidade de Campo Grande tem acompanhado a presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), 50. Enquanto ela e o marido se revezam na cozinha, os filhos ajudam nos demais afazeres domésticos.
Lavar a roupa é um cuidado de que ela não abre mão, até para se isentar de uma outra tarefa, da qual ela admite que foge em tempos de isolamento. “Passar roupa não é comigo. Lavo, cozinho, arrumo a casa.
Agora, passar roupa é missão do meu marido”, conta.
Quem também tem missão fixa na casa onde mora em Macapá é o líder da minoria no Senado, Randolfe
Rodrigues (Rede-AP), 48. Há mais de um mês, desde que começou o isolamento social, ele, os dois filhos e o neto passam os dias em casa.
Randolfe se define como uma pessoa “não muito adepta da cozinha”. Então, nos dias em que ele precisa cuidar das refeições, apela para as entregas por aplicativo. Mas de uma tarefa os filhos não o liberam.
“Eu que lavo a louça. E, sempre que vejo, tem uma pilha me esperando. Como durante o dia me dedico muito ao Senado, tenho levantado de madrugada para lavar a louça”, conta o senador, que enviou a foto para a reportagem aos 34 minutos da madrugada do último domingo (12).
Cozinhar também não é preferência entre as tarefas domésticas na casa do vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG), 59, em Belo Horizonte.
Adepto das comidas congeladas, ele tem reforçado os pedidos no período de isolamento. Em casa, passa a maior parte do tempo envolvido com as atividades do Senado, mas relata algo que tem deixado seus amigos com inveja.
“Eu nunca gostei de exercícios físicos, mas comprei uma esteira e, nesta época sem academia, tenho deixado muito amigo com inveja. Tenho feito uma hora de esteira por dia”, conta ele, rindo.
Fora o trabalho, Anastasia diz que tem se dedicado à leitura e aos filmes, especialmente com temas históricos.
Já no Acre, o colega Sérgio Petecão (PSD-AC), 60, admite que leitura não é seu forte no período de isolamento quando está fora das tarefas do Senado. “Não vou mentir. Leitura não é comigo. Não tenho esse hábito intelectual”, conta ele.
Petecão, que mora em Rio Branco, gosta de cozinhar. E diz que tem se controlado para cumprir as regras de quarentena, já que sempre teve o costume de receber muitas pessoas em casa.
A cozinha também é a preferência entre os trabalhos domésticos de Alessandro Vieira (Cidadania-SE), 45.
“Tinha de ver a almôndega com massa que fiz hoje. Foi um sucesso”, festejou o senador, que na última quarta-feira (15) cozinhou para a esposa e os três filhos, que têm idades entre 11 e 15 anos, na casa da família, em Aracaju.