Pela primeira vez PT escolherá candidato sem prévias
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Após cancelar as prévias que definiriam seu candidato a prefeito em São Paulo por causa da pandemia de coronavírus, o PT estabeleceu nesta semana que o novo método de escolha será uma votação virtual entre os 46 membros do diretório municipal do partido. Pré-candidatos, no entanto, recorrem dessa decisão.
Em reunião nesta quinta-feira (16) dos dirigentes do PT paulistano, ficou acertado que a votação virtual será feita em 30 de abril. As prévias deveriam ter ocorrido em 22 de março, e o partido, ao suspendê-las, estabeleceu o fim de abril como prazo para definir um nome.
A resolução da executiva nacional do PT, de que as escolhas de candidato a prefeito e vice, da chapa de vereadores e de coligações serão feitas pelos diretórios municipais vale para todas as cidades.
Nas que possuem mais de 100 mil eleitores e geração de TV, como é o caso de São Paulo, a decisão deverá ser referendada pela executiva nacional. As deliberações sobre candidaturas e alianças deverão ser aprovadas até 5 de julho.
Apesar de a direção municipal ter marcado a data da votação interna, a maioria dos pré-candidatos opina que o PT de São Paulo deveria esperar os recursos serem debatidos pelo diretório nacional antes de prosseguir com a deliberação.
Laércio Ribeiro, presidente do diretório municipal do PT de São Paulo, afirma que apenas está seguindo a deliberação da executiva nacional ao marcar a data e que, caso algum recurso seja acatado no futuro, ele irá reconsiderar ou refazer as decisões já tomadas.
Os pré-candidatos insatisfeitos propõem que as prévias sejam mantidas, mas pela internet —por meio de cadastro e senha. O argumento é que o resultado seria mais representativo em oposição à escolha de um colegiado restrito. Nas prévias, os cerca de 150 mil filiados do PT no município estão aptos a votar, mas a expectativa era de que 20 mil participassem de fato.
Para Ribeiro, a realização da votação ampla e online é inviável num curto espaço de tempo. Ele aponta problemas técnicos. por exemplo: numa família de filiados em que só haja um computador, poderá haver mais de um voto por IP?
“É um momento de crise, de excepcionalidade. Nenhum mecanismo disponível agora vai ser democrático. As prévias online podem excluir militantes de periferia sem acesso à internet”, diz.
Já se manifestaram contra o novo método de escolha os deputados Paulo Teixeira, Carlos Zarattini e Alexandre Padilha, o vereador Eduardo Suplicy e o urbanista Nabil Bonduki, que são pré-candidatos. Para eles, o acesso à internet pelos militantes não será um problema.
Também concorrem a ativista do movimento negro Kika da Silva e o ex-deputado Jilmar Tatto, que já era considerado favorito nas prévias com todos os filiados e também tem mais chances de ganhar na votação do diretório municipal, pois seus aliados formam maioria no colegiado.
Para seus adversários, a votação mais participativa, porém, abriria maiores chances aos demais. Suplicy, por exemplo, ganhou projeção nos últimos dias ao ver aprovada no Congresso a renda básica emergencial do coronavírus, uma pauta que sempre defendeu.
Tatto é membro da executiva nacional do PT e integra a CNB (Construindo um Novo Brasil), corrente majoritária do partido, da qual também faz parte a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann (PR). Ele não quis comentar sobre o processo de escolha determinado pelo partido.
Para Zarattini, há uma tentativa de impor o nome de Jilmar como candidato em São Paulo sem que haja uma discussão mais abrangente. “Jilmar, Gleisi e a CNB estão atropelando a democracia interna no partido. Temos o direito de ouvir a base do PT”, diz.
“O PT tem que avançar. Não pode, em um momento em que está disseminado o uso da internet e do celular, dizer que as prévias não podem ser pela internet”, completa o deputado.
Zarattini, Nabil e Suplicy apresentaram recurso contra a decisão de suspender as prévias, tomada ainda em março. Já outros nomes do PT, como Rui Falcão, Valter Pomar e Joaquim Soriano, questionaram em recurso a resolução do partido desta semana, de que a escolha deve ser feita em votação dos membros dos diretórios municipais.
Nesta quinta, Padilha também entrou com recurso próprio contra a resolução da executiva nacional.
“Não concordo com o PT, no século 21, restringir a participação ao diretório municipal, quando a sociedade inteira, inclusive a direção do PT e o Congresso Nacional, está se utilizando a tecnologia da informação para promover encontros mais amplos e mais democráticos”, disse.
O deputado destacou a importância política e estratégica da eleição em São Paulo e defendeu que haja critérios diferentes para a escolha do candidato a prefeito dependendo da cidade. “Não concordo com colocar no mesmo saco os mais de 200 municípios que têm mais de 100 mil eleitores, que têm realidades diversas e têm que ter critérios diversos.”
Teixeira, que é vice-presidente do PT, não chegou a apresentar recurso, mas votou contra a resolução na executiva nacional. “Defendo prévias eletrônicas e não num colégio tão fechado. São Paulo é a linha de frente das eleições municipais”, afirma.
Ele acredita ainda que uma solução para o dilema deve ser costurada com lideranças do partido, como o ex-presidente Lula e o ex-prefeito Fernando Haddad, que desde o princípio se recusou a concorrer novamente na cidade em 2020.
A resolução do PT sobre a escolha de candidatos diz ainda que em cidades com 20 mil a 100 mil eleitores, a decisão do diretório municipal deve ser referendada pela executiva estadual. Em cidades administradas pelo PT hoje ou que já foram administradas pelo PT, caberá a uma executiva superior referendar a escolha.
Nas cidades onde o PT não terá candidato a prefeito, decidindo apoiar a candidatura de outro partido, é obrigatório ter ao menos a chapa de candidatos a vereador própria.
O limite legal para registro de candidaturas é agosto. Entre os petistas, há preocupação com a indefinição da candidatura em São Paulo. A falta de um nome atrasa a elaboração de programa de governo, a montagem da chapa de vereadores e a estratégia para tornar conhecido o candidato escolhido.
Também dificulta respostas do partido a adversários que já se apresentaram para a disputa, como Márcio França (PSB), numa aliança de esquerda com o PDT, e o prefeito Bruno Covas (PSDB), que concorrerá á reeleição.
À direita, também há nomes já lançados para a corrida, como Andrea Matarazzo (PSD), Filipe Sabará (Novo), Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota). À esquerda, Orlando Silva sairá pelo PC do B.
Ainda há incerteza em relação a José Luiz Datena (MDB), que negocia a vaga de vice na chapa tucana, e à ex-prefeita Marta Suplicy, que está filiada ao Solidariedade e pode ser candidata a prefeita ou a vice. O PSOL tampouco escolheu seu candidato entre Guilherme Boulos, Samia Bomfim e Carlos Gannazi.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) até agora também não tem um nome que o represente em São Paulo. Seu partido, a Aliança pelo Brasil, não estará pronto até o pleito de outubro.