Redes sociais de Bolsonaro governam o país

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Foto: Reprodução

Durante suas transmissões ao vivo, religiosamente feitas às quintas-feiras, o presidente Jair Bolsonaro costuma perguntar como está a audiência do dia – quando não o faz, um auxiliar o mantém informado a todo momento sobre o alcance da publicação. A preocupação com as redes sociais é constante. Faz parte da rotina do presidente acompanhar os números de seguidores, os assuntos mais comentados e quais são as reações sobre suas determinadas atitudes. O resultado que colhe, ao que tudo indica, molda o seu comportamento.

A Arquimedes, empresa de análise política com base em big data, constatou como as atitudes do presidente oscilam conforme o apoio que ele recebe das redes sociais. A consultoria acompanha diariamente todo o volume de publicações vinculadas ao governo e, com base no conteúdo delas, criou um índice que avalia a popularidade da atual gestão. Os principais recuos feitos por Bolsonaro se deram justamente quando o apoio virtual despencou – como quando em um único dia ele perdeu dez pontos na avaliação após dizer que iria recriar o Ministério da Segurança Pública, o que esvaziaria as principais atribuições do popular ministro Sergio Moro. Diante da rejeição, a ideia logo foi abandonada.

Também é notório como o presidente cria fatos políticos quando se vê em enrascadas. O anúncio do “pibinho” e o tombo histórico da Bolsa de Valores levaram o índice para a margem dos 35 pontos, o que é considerado muito baixo, dada a aderência que o presidente tem nas redes sociais. Em reação, Bolsonaro surgiu com um humorista na frente do Palácio da Alvorada e passou a inflar os protestos do dia 15 de março, que miravam o STF e o Congresso. Ato contínuo, ele próprio foi às ruas. Resultado: atingiu o maior índice de avaliação das redes do ano: 56 pontos de aprovação. Parte desse número, como já foi constatado, foi inflacionado por robôs.

“O Bolsonaro se esforça para alimentar as redes. Ele fez um trabalho de semanas até a data da manifestação. Quando chegou o dia, colheu o resultado. No dia 15, o presidente publicou mais de 40 vezes no Twitter. E temos de lembrar que ele claramente estava perdendo nas redes naquele momento frente o que já tinha sido. Isso é resultado da economia, que impôs uma trajetória de queda. O coronavírus veio depois, foi um elemento a mais”, afirma Pedro Bruzzi, fundador da Arquimedes.

Picos positivos:

23 janeiro – 52 pontos: O governo consegue se recuperar após o indefensável discurso em que o secretário de Cultura Roberto Alvim plagiava o nazista Joseph Goebbels. As articulações para a atriz Regina Duarte substituí-lo na pasta animaram as redes e ajudaram a elevar a avaliação positiva

30 de janeiro – 51 pontos: A resistência do governo em demitir o assessor da Casa Civil Vicente Santini, que usou um avião da FAB para viajar para a Suíça e para a Índia, havia repercutido mal. As redes bolsonaristas aplaudiram, no entanto, quando a exoneração definitiva foi confirmada no dia 30 de janeiro

20 de fevereiro – 53 pontos: A base bolsonarista rendeu um dos mais altos picos do ano diante dos ataques do general Augusto Heleno ao parlamento – divulgados em áudio com um sonoro palavrão – e em meio à polêmica em que o senador Cid Gomes pilotou uma retroescavadeira contra um motim de policiais no Ceará

15 de março – 56 pontos: Bolsonaro iniciou um patamar crescente ao divulgar que o resultado de seu exame sobre o coronavírus havia dado negativo e atingiu o ponto mais alto do ano no dia das manifestações, quando as pessoas foram às ruas em ato que mirou o STF e o Congresso. Além de também ter saído às ruas, Bolsonaro publicou mais de 40 postagens sobre os protestos, o que impulsionou ainda mais as redes de apoio

26 de março – 49 pontos: Depois do duro pronunciamento contra o isolamento para conter o coronavírus, Bolsonaro viu uma forte aderência do bolsonarismo à pauta de preservação da economia em meio à crise. A avaliação positiva das redes iniciava um movimento de subida após a fala em cadeia de rádio e televisão e, neste dia, ganha ainda melhor humor após o anúncio de um auxílio de 600 reais para trabalhadores informais

Picos negativos:

3 de janeiro – 36 pontos: Bolsonaro indica ser favorável ao ataque dos EUA ao general iraniano Qasem Soleimani dizendo que a posição brasileira era a de se aliar a qualquer país no combate ao terrorismo. As redes, temendo uma reação do Oriente Médio, rechaçaram as declarações e pediram para o presidente não adotar uma posição bélica diante do imbróglio internacional – o que foi acatado

23 e 24 de janeiro – de 52 para 42 pontos: Em um dia, o presidente perdeu 10 pontos em sua avaliação como resultado da declaração de que poderia recriar o Ministério da Segurança Pública, o que provocaria um significativo esvaziamento da atuação do ex-juiz Sergio Moro à frente do Ministério da Justiça. Diante do impacto, a ideia acabou rechaçada

14 de fevereiro – 34 pontos: A avaliação do governo atingiu o menor índice do ano após o ministro Paulo Guedes proferir a trapalhada declaração de que com o dólar baixo as empregadas domésticas faziam uma “festa danada” indo para a Disney. Houve uma crítica maciça à fala, e o chefe da Economia acabou tendo de se retratar

4 de março – 37 pontos: O anúncio do ‘pibinho’ voltou a puxar a avaliação do governo para baixo. Enquanto os economistas estimavam um crescimento de 2,5% em 2019, o avanço acabou em apenas 1,1%. No mesmo dia, Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada acompanhado de um humorista que ironizou os dados e entregou bananas a jornalistas

10 de março – 35 pontos: O tombo histórico de mais de 12% da Bolsa de Valores e o temor de uma recessão por causa do coronavírus renderam a segunda pior avaliação do governo nas redes. Em viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro minimizou o resultado e ainda surgiu com um fato novo – e totalmente fora de contexto: a “denúncia” de que houve fraude nas eleições de 2019

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