
Seja quem for, próximo chefe da PF terá problemas
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A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) divulgou neste domingo carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro em que afirma que o episódio de demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro criou uma “crise de confiança” para a próxima diretoria da PF, “tanto internamente quanto perante a sociedade”.
“Da maneira como ocorreu, há uma crise de confiança instalada, tanto por parte de parcela considerável da sociedade, quanto por parte dos delegados de Polícia Federal, que prezam pela imagem da instituição. Nenhum delegado quer ver a PF questionada pela opinião pública a cada ação ou inação. Também não quer trabalhar sob clima de desconfianças internas”, diz o texto.
Moro pediu demissão na sexta-feira alegando que Bolsonaro tentava interferir politicamente na instituição, com a nomeação de um diretor-geral que lhe prestasse informações e atendesse aos seus pedidos de investigação. O presidente tinha demitido, pela manhã, Maurício Valeixo, então diretor-geral.
A ADPF afirma na carta que Bolsonaro não pode, como expressou em declaração na sexta-feira, receber informes diários sobre as investigações, papel que seria da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). “O ordenamento jurídico prevê que as atividades investigativas da Polícia Federal são sigilosas e somente os profissionais responsáveis em promovê-las é que devem ter acesso aos documentos. O mesmo se aplica aos relatórios de inteligência”, disse.
O texto ainda defende que a investigação sobre a facada recebida por Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 “recebeu total atenção” da PF e que ainda não está exaurida. “Entretanto, não é possível produzir em uma investigação um resultado específico desejado”, afirmou a associação, sobre o desejo do presidente de encontrar um mandante para o crime – que, segundo a investigação da PF, teria sido cometido por uma só pessoa, sem um mentor por trás.
Os delegados, por fim, aproveitam o documento para reforçar uma demanda história da associação, a aprovação de propostas legislativas para dar autonomia financeira para a polícia federal (não ficariam sujeitos aos cortes impostos pelo Ministério da Justiça) e a criação de um mandato para o diretor-geral, indicado pelos próprios policiais numa lista tríplice. “Tais medidas serão um legado de seu governo para o Brasil e dissiparão qualquer dúvida sobre as intenções de V.Exa. em relação à Polícia Federal”, diz o texto.