Valeixo quer “autenticar” o próprio celular
Foto: DENNIS FERREIRA NETO / Estadão Conteúdo
Pivô do fogo cruzado entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o ex-diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, compareceu ao Instituto Nacional de Criminalística (INC) para fazer um backup de seu celular, para não perder os dados do aparelho caso tenha de mudar de número, segundo apurou o Estado com fontes na PF em Brasília.
Ele pediu a peritos do INC, que fica junto à Superintendência da PF no Distrito Federal, que façam a preservação de todos os arquivos – trata-se de dados dos últimos 16 meses, período em que comandou a corporação.
À frente da PF, Valeixo esteve no alvo de Bolsonaro desde 2019, quando o presidente, ainda em seu primeiro ano de mandato, começou a fazer pressão para a sua troca, sinalizando a Moro a quebra da promessa de bandeira branca que ele teria no comando da Justiça.
Na semana passada, ao deixar o cargo, Moro acusou Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal. Até o momento, o ex-ministro já exibiu mensagens de WhatsApp em que Bolsonaro cita investigações contra aliados no Congresso, para exigir: “Mais um motivo para a troca”.
Até o momento, a única declaração pública de Valeixo se deu por meio de uma carta, em que não fez comentários diretos sobre o episódio. “Deixo o cargo com a certeza de que a Polícia Federal segue forte, unida e alinhada aos princípios republicanos mais nobres”, disse.
Na quinta, 23, Valeixo também evitou o embate, e disse, em uma videoconferência com os superintendentes da PF em todo o País, que está cansado e que no início do ano conversou com o ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) sobre seu desejo de sair do comando.
Ele disse a seus pares que o motivo de sua saída não tem relação com qualquer inquérito que eventualmente possa incomodar o presidente Jair Bolsonaro. Na conversa com Moro, Valeixo, amigo do ministro, demonstrou exaustão, reportando-se a um 2019 tenso na direção da corporação.
No entanto, Moro endossa sua versão. “Há uma possibilidade que Valeixo gostaria de sair, mas isso não é totalmente verdadeiro. O ápice de qualquer delegado da PF é a direção geral. E ele entrou com uma missão. Claro que depois de tantas pressões para que saísse, ele de fato manifestou a mim ‘olha talvez seja melhor eu sair para diminuir essa cisma e nós conseguimos realizar uma substituição adequada’, mas nunca isso voluntariamente, mas decorrente dessa pressão que não é apropriada”, disse, ao se despedir.
Os possíveis substitutos de Valeixo e de Moro são homens de confiança de Bolsonaro e de sua família.
Alçado ao cargo de ministro em junho de 2019, Jorge Oliveira tem uma relação familiar com o clã Bolsonaro, onde é chamado de Jorginho. Filho do capitão do Exército Jorge Francisco, morto em 2018, que por 20 anos foi chefe de gabinete de Bolsonaro, Oliveira é advogado, major da Polícia Militar. Ele foi chefe de gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e também padrinho de casamento do parlamentar.
Oliveira iniciou o governo no comando da Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), mas, ainda na transição, mostrava sua influência. Ele ajudou Bolsonaro na escolha de ministros, como o advogado-geral da União, André Luiz Mendonça.
Ao chegar à Secretaria-Geral, se tornou um dos mais influentes ministros do governo. Considerado discreto por amigos e “astuto” por seus críticos, Oliveira também passou a ser cotado para ser indicado a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Já Alexandre Ramagem, delegado da Polícia Federal, entrou para o rol auxiliares de confiança do Planalto com o apoio do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Ao filho do presidente, é atribuído a nomeação de Ramagem para a Abin, em julho do ano passado.