Aliados de Bolsonaro montam esquema difamatório contra Doria

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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil e José Antonio Teixeira/Divulgação

Um site criado para defender o impeachment do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem como proprietária a esposa de um assessor parlamentar do deputado estadual Gil Diniz (PSL-SP), conhecido como “Carteiro Reaça”, ferrenho defensor do governo Jair Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, e aliado político do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), de quem foi assessor entre 2016 e 2018.

O portal Placar Fora Doria, que faz campanha pelo afastamento do tucano, foi criado no dia 24 de abril deste ano. O site reúne uma lista de supostas irregularidades que teriam sido cometidas pelo governador, como a compra, sem licitação, de radares móveis para o estado, e traz informações sobre o posicionamento dos deputados estaduais em relação ao pedido de impeachment protocolado no dia 22 de abril pelos parlamentares Gil Diniz (PSL), Douglas Garcia (PSL), Major Mecca (PSL), Frederico D’Avila (PSL), Valeria Bolsonaro (PSL), Tenente Coimbra (PSL), Edna Macedo (Republicanos), Tenente Nascimento (PSL) e Letícia Aguiar (PSL).

As primeiras menções ao site no Twitter foram feitas por um perfil atribuído a uma mulher chamada Cláudia. A conta fez publicações em massa em um intervalo de aproximadamente oito horas, e foi excluída após ter sido denunciado por outros usuários como um perfil falso. A ação levou a hashtag #AbreImpeachmentCaue aos trending topics (assuntos mais comentados) da rede social.

Segundo o WHOIS, banco de dados que armazena informações sobre todos os domínios registrados na internet, o Portal Fora Doria é de propriedade de Sueelen Doneda Azevedo (veja imagem abaixo). A mesma informação pode ser checada no RegistroBR, site que compila informações sobre domínios brasileiros.

Em seu perfil no Facebook, Sueelen, moradora de Pirassununga, aparece em fotos ao lado de seu marido, Raphael Azevedo, assessor parlamentar lotado no gabinete de Gil Diniz.

O impeachment do governador, desafeto político declarado do presidente Jair Bolsonaro, é uma das bandeiras dos deputados bolsonaristas na Alesp, presidida pelo deputado estadual Cauê Macris (PSDB), correligionário de João Doria. Para ser aprovado, o pedido precisa ser pautado por Macris e receber, no mínimo, 63 votos favoráveis – no total, a Assembleia possui 94 deputados. Até o momento, segundo levantamento do Placar Fora Doria, 14 parlamentares são a favor, 23 são contra e outros 57 não se posicionaram.

Dentre os deputados estaduais mais engajados na campanha contra Doria estão Gil Diniz e Douglas Garcia. Em seus perfis no Twitter, os parlamentares têm feito nos últimos dias uma série de publicações mobilizando seus apoiadores a pressionar Macris. Os tuítes são acompanhados da hashtag #AbreImpeachmentCaue.

“O povo do Estado de SP não pode mais esperar! É urgente!!! João Dória precisa cair”, diz uma publicação de Garcia da quarta-feira 13.

 

“A medida mais dura que o povo de SP precisa e quer, é tirar você do Palácio dos Bandeirantes! Cadê os outros líderes paulistas? Cadê os comerciantes, industriais, militares, etc? Não estão vendo a destruição que esse senhor está provocando em nosso estado? #AbreImpeachmentCaue”, escreveu Diniz nesta quinta-feira, 14.

 

Além de pedirem o impeachment do governador de São Paulo nas redes sociais, bolsonaristas organizaram o acampamento “Fora, Doria” ao lado do prédio da Assembleia Legislativa, onde protestam contra o tucano em meio à pandemia de coronavírus. Em outra manifestação, caminhoneiros realizaram um ato na Avenida Paulista contra a extensão da quarentena até o dia 31 de maio, anunciada pelo governador, e o rodízio de veículos implementado pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) – a medida vale por 24 horas em dias alternados em toda a cidade (em dias pares, podem apenas circular veículos com placa de final par e em dias ímpares, veículos com placa de final ímpar).

Procurado por VEJA, o deputado estadual Gil Diniz afirmou que Raphael Azevedo é responsável por cuidar de suas redes sociais e que o site foi criado para divulgar a iniciativa de parlamentares da Alesp que pedem o impeachment de Doria.

“Fui um dos primeiros perfis verificados a falar do site. Aqui do lado da Alesp, há o acampamento que pede o impeachment de Doria. Eu e outros colegas somos cobrados, nos pediram para organizar uma plataforma que compilasse a posição dos parlamentares em relação a isso. [Raphael] Azevedo, meu assessor, toma conta de minhas redes sociais, faz meus posts. Pedi a ele que fizesse o site. Paguei 40 reais do meu bolso para adquirir o domínio, e ele registrou no nome dela. Quando o site ficou pronto, divulguei nos meus perfis. Não foi [registrado no nome de Sueelen] para esconder nada. A Cláudia, que fez alguns posts, não é robô, não, como disseram. Afinal, se eu quisesse terceirizar essa iniciativa, não estaria na linha de frente pedindo o impeachment do Doria. O intuito do site é divulgar o pedido de impeachment, porque estou engajado nisso”, disse Diniz a VEJA.

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