Bancada da bíblia critica golpismo de Bolsonaro
Foto: Aílton de Freitas
O presidente Jair Bolsonaro conta com o apoio fiel da maioria dos deputados e senadores evangélicos, mas algumas de suas declarações têm desagradado o bloco formado por mais de 100 parlamentares.
A última dessas frases foi dita em Brasília durante um ato promovido no domingo por aliados de Bolsonaro que defendem que ele governe sozinho e que o Congresso e o Supremo Tribunal Federal sejam fechados. O presidente declarou que tinha o apoio das Forças Armadas, sem explicar exatamente o pretendia dizer com isso.
“Eu acho que essa foi a parte mais delicada da declaração dele”, afirmou ao Valor o presidente da frente parlamentar evangélica, o deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM). “Como várias autoridades disseram, as Forças Armadas não são ferramentas de um governo, são ferramentas do Estado e, portanto, o senhor das Forças Armadas não é o presidente da República, mas a Constituição Federal”, diz o deputado.
Câmara afirma que o fechamento das instituições não é um assunto que sequer passe perto de ser avaliado pelos parlamentares da frente e diz que a democracia é forte o suficiente para que isso não aconteça.
Mas ele se diz preocupado com manifestações como a de domingo.
“A gente tem a preocupação no aspecto de você medir as palavras, porque a verdade é que o Brasil precisa de um pouco de paz para poder enfrentar o coronavírus, para poder enfrentar a crise econômica, e a gente fica preocupado até que ponto esses movimentos ajudam ou atrapalham a nação neste momento”, afirma Câmara.
Perguntado se Bolsonaro ajuda ou atrapalha para um ambiente de paz no país com declarações como a que fez ontem, Câmara afirma: “Se ele não alimenta a cizânia, a paz é que ele não alimenta.”
E acrescenta: “Eu acho que tem muita coisa boa feita pelo governo federal neste momento de coronavírus e não precisa desse comportamento para a gente mostrar que o governo é bom.”
O deputado lista o pagamento da ajuda de R$ 600 para famílias de baixa renda, a negociação da dívida com os Estados e com as empresas, a compensação das perdas dos Estados e plano do governo de pensar políticas de recuperação da economia.
Silas Câmara diz que prefere acreditar que as declarações do presidente diante de seus apoiadores têm mais o intuito demonstrar que ele tem apoio e menos a intenção de incitar uma intervenção militar para mantê-lo no poder, fechando o STF e o Congresso.
O deputado lembra que Bolsonaro tem o apoio leal de um terço dos eleitores, segundo as pesquisas.
“Então eu fico me perguntando: que sensatez seria essa de pensar que poderia se fazer um movimento desse com 70% da população contra? Se eu que não sou presidente, que não sou ministro da Defesa, que não sou o comandante das Forças Armadas penso assim, tu acha que um cara das Forças Armadas não vai pensar assim também? É lógico que vai pensar”, avalia.
Ele diz acreditar que não haja no país qualquer ambiente para uma movimentação política nessa linha nos quartéis e que os militares têm um nível intelectual e de informação política bastante elevado. “Eu acho até que tem uma parte substancial das Forças Armadas sabe o que é um comando racional e sabe o que é um comando sem fundamento constitucional.”
A frente parlamentar evangélica tem o apoio de 196 deputados e senadores, mas entre eles, os que são, de fato, evangélicos somam 130 deputados e deputadas federais e 14 senadores e senadoras.
A despeito das críticas em relação a declarações como a que foi feita pelo presidente no domingo, o bloco evangélico se mantém, majoritariamente, unido em apoio ao governo.
“A frente parlamentar evangélica ainda consegue enxergar no presidente Bolsonaro uma liderança eleita que tem condições, sim, de levar o Brasil a um futuro melhor, com segurança jurídica, com compromisso com suas bandeiras”, diz o deputado.
Em sua avaliação, 70% de tudo que a bancada evangélica tinha de expectativa em relação um novo governo de direita, conservador está se cumprindo.