Bial diz que Regina cometeu “suicídio cultural”
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Há quem considere que, com seu “Conversa com Bial” Pedro Bial revolucionou o gênero do talk show no país.
Sem a veia cômica de muitos de seus colegas —uma lista que, hoje, inclui os humoristas Fábio Porchat, Tatá Werneck, Gregorio Duvivier e Danilo Gentili—, no programa da Globo que estreia mais uma temporada nesta segunda (18), o apresentador aborda temas os mais diversos, e convidados mais variados ainda. E não foge das perguntas difíceis.
Em entrevista por email, Bial diz que a avaliação de que representa uma quebra de paradigma de algum tipo lhe parece um tanto exagerada. Mas admite que o programa, que ele diz refletir sua identidade profissional, o interesse do público e “um bocado de obsessões pessoais”, “trouxe mais uma boa opção para o espectador”.
Coincidência ou não, a temporada que ele inicia agora, com entrevistas realizadas à distância, trata justamente de televisão, que este ano completou 70 anos no Brasil.
Entre os convidados, estão, por exemplo, Glória Maria, sua companheira de bancada nos tempos do “Fantástico”, além de nomes pop como a cantora Anitta, o ator Paulo Gustavo e a dupla sertaneja Bruno & Marrone.
“A pandemia só tornou mais oportuno e pertinente falar disso. Se não fosse a TV aberta como fonte de informação confiável e de diversão saudável, nossa situação poderia ser bem pior”, diz Bial.
Isso porque, ele continua, a imprensa é um dos poucos espaços em que os brasileiros hoje podem se unir, dada a ausência de liderança da atual administração.
“O governo Bolsonaro confirma a escolha de Thomas Jefferson [principal autor da Declaração de Independência dos Estados Unidos]: entre não ter imprensa e ter governo, e não ter governo e ter imprensa, ainda bem que temos imprensa, porque governo…”, afirma.
É o tipo de provocação que Bial vem tecendo também no programa, sobretudo no fim da temporada passada.
Ao entrevistar o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o GSI, por exemplo, o apresentador caracterizou a ascensão política do presidente como dotada de um “estilo cavalão” —referência ao apelido do capitão reformado nos tempos do exército. Defendeu a universalidade dos direitos humanos em oposição à ideia de que eles só valeriam para “humanos direitos”.
E arrematou com uma pergunta que de retórica só tinha a forma: “Não há saída nenhuma fora da democracia, né?”, ao que Heleno respondeu que isso era inegociável.
O apresentador também conversou com Regina Duarte sobre suas ideias para a cultura meses antes de ela ser cotada para a Secretaria Especial de Cultura.
“Uma grande atriz, parte fundamental da história de nossa teledramaturgia, atentou contra si mesma e sua própria biografia, num ‘suicídio cultural'”, disse em referência à entrevista da atriz à CNN na semana passada. Nela, Regina minimizou as mortes na ditadura militar e reclamou da morbidez da pandemia do coronavírus.
Pode ser, aliás, que o assunto volte à baila com um dos entrevistados de Bial desta temporada, o diretor Daniel Filho. Ex-marido da atriz, ele disse, numa reportagem da Folha publicada na última quinta (14) que não consegue entender o que levou Regina a integrar o governo.
O único tema sobre o qual Bial não pareceu disposto a se estender nesta entrevista foi o anúncio da cineasta Petra Costa de que faria um documentário sobre a pandemia.
Numa entrevista a uma rádio gaúcha, o apresentador descreveu “Democracia em Vertigem”, longa de Costa indicado ao Oscar, como uma “ficção alucinante”, com uma narração em off “miada, insuportável”.
Ele diz, no entanto, que ficou feliz ao saber do novo projeto de Costa. “Ela, que já fez filmes tão bons, continua inquieta, sem parar de produzir.”
Em quarentena com a família desde meados de março, Bial soa animado ao falar da experiência de entrevistar à distância.
Ele conta que os episódios, exibidos de segunda à sexta, são gravados o mais em cima possível. As limitações técnicas são vistas como fonte de inspiração. Mas a grande vantagem é “poder falar como se fosse de pertinho com pessoas que estão distantes”, ele conta.
O objetivo, afirma Bial, é que o programa vire justamente um abrigo, um ponto de encontro. E uma boa razão “para dormir mais tarde”, ele completa —o “Conversa com Bial” vai ao ar depois do Jornal da Globo, afinal, já de madrugada.