Bolsonaristas querem aliança do Brasil com Taiwan

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Foto: Reprodução

Em mais um episódio das tensões diplomáticas entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a China, o deputado Loester Trutis (PSL-MS), da ala bolsonarista do partido, apresentou um projeto de lei pedindo que o Brasil reconheça Taiwan como “povo amigo” do país. Atualmente, o Brasil mantém apenas relações não-diplomáticas com a ilha, que recebe o título de “província rebelde” da China continental.

Segundo Trutis, as características de Taiwan, como conhecimento tecnológico avançado em áreas como educação, segurança pública e sistema prisional seriam benéficas para ao Brasil.

“Mesmo sem relações diplomáticas com o Brasil, eles estão dispostos em compartilhar esse avanço”, disse o deputado, que visitou Taiwan no ano passado. Ao Metrópoles, ele criticou a China continental – sempre referida como “comunista” – e elogiou o sistema “capitalista e democrático” do país que, segundo ele, “funciona”. Outros deputados da bancada ligada a Jair Bolsonaro estariam dispostos a apoiar o projeto, que ainda não conta com apoio formal da Presidência.

Desde a separação de Taiwan da China, o país desenvolveu sua própria identidade, mas nunca teve a sua independência formal reconhecida no mundo todo. Pequim ainda afirma ter soberania sobre a ilha e recorrentemente aumenta as tensões como forma de estar no controle.

Na prática, justifica o deputado, estabelecer relação diplomática com Taiwan seria uma forma “significativa” de estabelecer futuros tratados de cooperação e transferência de tecnologia.

Atualmente, a China continental é o maior parceiro econômico do Brasil. Apenas neste ano, o país comprou mais de R$ 120 bilhões em produtos do Brasil.

Apesar do entusiasmo do deputado, a matéria só deve ser alvo de negociações entre as lideranças no fim da pandemia, uma vez que os esforços da Câmara dos Deputados estão voltados para projetos primordiais no combate ao coronavírus. As conversas sequer estão avançadas com parlamentares em busca de apoio.

No mês passado, a base bolsonarista no Congresso fez ataques diários à China após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, culpar o país asiático pelo coronavírus. Após o episódio, houve uma mobilização dos aliados do chefe do Executivo que pediram bloqueio comercial dos chineses.

Os ataques continuaram e contaram com um episódio do ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicar quadrinhos tirando sarro do sotaque chinês. Ele está sendo investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por racismo.

O impasse causou uma crise diplomática e autoridades brasileiras tentaram amenizar a situação. Isso porque a China é, há alguns anos, o maior parceiro comercial do Brasil. De acordo com o Ministério da Economia, só em 2019, o governo chinês importou US$ 63,4 bilhões em produtos brasileiros (algo como R$ 360 bilhões), quase 28% do total de exportações do país.

Esta não é a primeira tentativa do grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro de alterar o status diplomático de um país ou cidade.

No início do governo, contrariando a prática da imensa maioria dos países, Bolsonaro pregou a mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv – capital internacional – para Jerusalém, cidade dividida entre diversos povos, com predominância dos israelenses.

O projeto entrou em compasso de espera após uma série de países árabes – que são compradores de grande quantidade de carne brasileira – protestarem. Ainda assim, o presidente diz que não desistiu da ideia.

Metrópoles