Bolsonaro causa mal-estar no Exército

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Foto: Jorge William/Agência O Globo

A notícia de que o presidente Jair Bolsonaro pretendia trocar o comando do Exército causou ontem mal-estar na cúpula das Forças Armadas e mobilizou uma força-tarefa informal para desmentir a informação. A operação envolveu inclusive o principal suposto cotado ao cargo, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que é general da ativa.

O comando das Forças Armadas tampouco pareceu querer endossar de maneira enfática a reclamação feita pelo presidente no sábado no Palácio da Alvorada aos chefes das três Forças sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal e do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

Indicativo disso é a nota divulgada ontem por Fernando Azevedo, em que ele classifica como “inaceitável” a agressão a jornalistas em uma manifestação bolsonarista no domingo. O documento afirma, genericamente, que “Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do País”.

A nota reforça ainda a gravidade da pandemia de covid-19, desdenhada por Bolsonaro, dizendo que o enfrentamento à doença “requer esforço e entendimento de todos”.

Ramos descartou substituir Pujol em uma entrevista coletiva para tratar da covid-19, no Palácio do Planalto. Ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, o general da reserva Walter Souza Braga Netto, ele afirmou que “nem em pensamento” o presidente cogitou colocá-lo no posto. O ministro disse que a notícia, publicada pela “Folha de S.Paulo”, caiu como “uma surpresa desagradável”, que lhe causou “constrangimento e indignação”. Afirmou ainda ter falado com Pujol, para desmentir a publicação.

“Já falei com o general Pujol. Emiti uma mensagem minha, de cunho pessoal, solicitei que fosse incluída no grupo reservado do alto comando do Exército. Essa notícia me causou bastante constrangimento e indignação. Eu disse que essa notícia era improcedente, não existe”, disse. “Ontem mesmo, eu tive vários contatos com companheiros e decidi emitir uma nota em que eu deixo claramente que é uma hipótese absurda.”

Ao longo do dia de ontem, fontes militares diziam acreditar que dificilmente o presidente Jair Bolsonaro faria uma troca no Comando do Exército neste momento. Para elas, a eventual substituição do general Pujol por Ramos (Secretaria de Governo) neste momento, como foi aventado, poderia rachar a cúpula da corporação.

Embora querido por colegas, a indicação de Ramos seria vista como um gesto politizado demais para os padrões da corporação.

O próprio Ramos reconheceu isso na entrevista coletiva, ao explicar que os militares cultuam valores “que são muito sagrados”, como “a antiguidade, o merecimento e a maneira correta”.

“De antiguidade, eu sou o sexto general oficial do Exército que está na ativa, apesar de estar ministro. Então, não teria como eu ser designado”, disse. “Com que liderança eu chegaria para comandar o Exército ultrapassando cinco mais antigos e uma ‘indicação política’?”

Segundo ele, a troca não foi conversada com Bolsonaro ou com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo. “O presidente Bolsonaro nem em pensamento tratou isso comigo. Tampouco o ministro da Defesa”, disse. “E o presidente, tem que ser dita a verdade, em nenhum momento tratou, pensou, falou isso daí com quem quer que seja. Hoje eu conversei com ele, ele se mostrou tão surpreso quanto eu.”

Valor Econômico